Navegando...

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Trabalhamos embarcadas, offshore, dentro d’água, como queiram. As palavras para explicar essa maneira de ganhar a vida, ou ganhar o sagrado dinheiro para viver a vida, tem muitos nomes. Mas, o importante é o que se ganha na convivência. Neste mundo muito diferente, temos o privilégio da intimidade quando descobrimos a beleza no interior dos seres mais incríveis. Verdadeiros presentes em palavras pois é o que podemos aqui compartilhar. Pérolas que não vão adornar o corpo mas com certeza vão fazer crescer o valor da alma de cada uma de nós. Se nem tudo que se mostra é belo, não importa. Se percebermos o equilíbrio, vai ficar tudo bem!

23 dezembro, 2011

Bodas de Ouro


Meus pais fazem 50 anos de casados hoje. Bodas de ouro! Embora o casamento seja deles eu me sinto também comemorando 50 anos de vida boa, numa família forte, cheia de altos e baixos mas firme no propósito de evoluir e agregar valores.
Pois foi isso que aprendi, que consegui adquirir e tento passar para as pessoas que estão a minha volta. Honestidade, integridade e lealdade. Por mais que nosso caminho fosse feito de espinhos, era só olhar mais um pouquinho para cima e veríamos as rosas.
Pai firme, sincero, protetor feroz e autêntico. Mãe dedicada, flexível, espiritualizada e extremamente inteligente. Esses ingredientes nos fizeram pacientes, críticos e sonhadores. E misturando nós 5 conseguimos chegar até aqui com uma base sólida onde a referência da família é indestrutível.
E de dois partiram três que transformaram-se em oito e agregaram mais um monte incontável. Família é isso: um juntamento infinito de possibilidades e universos pararelos cheios de mistérios. Não falta bom humor e boa fofoca. Também não falta vontade de querer mais e preguiça com café.
Sim, sempre tem café. Sempre tem chocolate e jornal com uma exagerada conversa sobre política. Sempre tem receitas e comida de qualquer tipo. Geladeira gorda. Melancia. Televisão ligada. Música e gargalhada. Conversa em cima da cama, ao redor da mesa depois do almoço. Doce de banana. Máquina de lavar fazendo barulho; telefone tocando.
Obrigada aos meus avós que pariram meus pais, que formaram uma família que me mantém sã. Obrigada aos meus irmãos que guardam minhas lembranças como desenho animados. Obrigada as minhas cunhadas que permitiram trazer a esse mundo sobrinhos tão únicos, tão amados. Obrigada as minhas tias e tios, aos meus primos e todos aqueles, consanguíneos ou não, que fazem parte deste conglomerado eterno que é minha família.
E domingo tem bolo da titia – das titias!
Família é realmente de ouro. Belíssima simbologia neste metal valioso, iluminado e tão cobiçado. Porque realmente para conquistá-lo é preciso muito esforço psicológico, vontade de ferro, conivência, cumplicidade. É preciso ceder, aprender a entender e amar.
Só sinto-me triste quando vejo que hoje em dia as famílias perderam a referência de estabilidade. Talvez o mundo esteja caminhando para uma nova evolução familiar, sei lá.
A única coisa que posso dizer, porque sinto todo dia, é que prefiro ainda a família antiga que vivenciei quando pequena – uma mesa grande, com meu avô sentado à cabeceira, e muita conversa e risada pararela na hora do almoço. Essa lembrança rara foi o maior presente que tive.
E esse presente continua sendo aberto todos os dias, no ouro da aliança entre meu pai e minha mãe.

17 setembro, 2011

Expectativas


Interessante como nos decepcionamos com as negativas ou as positivas inversas ao que esperávamos. Complicado? Nem tanto, se pensarmos na quantidade de decepções e encontros desmarcados ou no planejamento infinito que não se concretiza sempre adiando ou esperando que o outro faça acontecer para ser realizado.
Vixi! Agora compliquei de vez! Pergunto-me, por que fico triste depois de ficar alegre? Talvez porque exista ainda em mim aquela pitada de ingenuidade que todos condenam (Sim, porque ser ingênua é sempre ponto negativo!).
Na maioria das vezes dosamos nossa vontade por causa de alguém. Limitamos o tamanho dos nossos passos sempre pensando no julgamento alheio. Se vamos sair para dançar, nunca sem acompanhante; se vamos sair para jantar, nunca sem um par; se vamos ao cinema, imagina, sozinha? Acho graça nesta hora porque penso nos meus sobrinhos... sim, novamente, lá vão eles comigo – ou eu com eles – e acabo na fila dos Smurfs!
Melhor parar com isso! Mas como? Se tudo que aprendemos tem a ver com “o outro”. Desde o início nos ensinam que Deus criou a mulher da costela do homem para que não vivessem sós no paraíso.  Que raio de paraíso é esse que me tolhe, me faz ser condescendente, me ensina que a independência feminina tem um quê de marginalização?
De qualquer forma é melhor começar a contar só comigo para não me decepcionar mais. Ou quem sabe não esperar demais. É isso! Estamos sempre esperando que o outro estabeleça o parâmetro para o que temos que fazer e daí termos prazer.
Isto é perigoso e frustrante. Não serve para quem já passou da adolescência e descobriu que o romantismo está apenas nos filmes e nos romances das Julias e Sabrinas.
Quando ficar alegre por ter que esperar, cuidado: tenha sempre o plano B (ou o Z) pronto. Assim, quando ligarem para desmarcar ou dar uma desculpa esfarrapada (sorte sua pois na maioria das vezes isso nem acontece!) não fique triste. Entenda que as pessoas – homens e mulheres – têm seus momentos, seus altos e baixos, suas seqüelas. E você não é responsável, nem culpada, pelas atitudes alheias. Jamais atrele sua felicidade a alguém que nem mesmo sabe quem é ou a que veio.
Expectativas são suas, criadas na sua mente, crias da sua vontade. Quando entender isto, não terá mais a sensação de tristeza por não ter realizado o que dependia do outro ser. Simplesmente o momento passará e ficará a sensação de que o azar é só dele (ou dela!).
Se nosso coração é livre e tem o poder de ir e vir com responsabilidade, satisfação vira mera informação. Porque se o paraíso significa manter minhas asas dobradas enquanto alguém é responsável pelo vento para que eu possa alçar voo, então, prefiro o inferno!

10 setembro, 2011

Vínculos



Hoje é o casamento do meu primo. Uma relação muito atual, com filhos “seus e meus”, com todos os temperos e um Menu muito próprio, para tudo dar certo. Aí me lembrei de uma conversa sobre relacionamentos que tive com uma amiga, há três anos.
Interessante como os casais se separam fácil hoje em dia, mas a verdade é difícil se separar; é horrível, dói muito, ficamos tristes, afinal, ninguém quer terminar um relacionamento! Temos sempre aquela intenção de sermos um casal eterno; a imagem do envelhecer ao lado daquele alguém com quem nos casamos. Quando me separei, lembro muito bem o que todas as pessoas me diziam. Uma frase, porém me deu muito alento, quando minha tia, depois de ouvir minhas lamentações disse: “Ninguém casa para se separar!”
Com o tempo a dor vai indo embora e percebemos que tudo acontece para o nosso bem.
Depois sempre encontramos alguém que nos diz que podemos ser felizes novamente. E lá no fundo, nós sabemos que podemos. Mas sempre precisamos ouvir isso de outra pessoa, por que será? Auto-estima em baixa? Amor próprio deprimido? Não importa, queremos que ele diga “posso te fazer feliz!”
Somos todos grandes solitários nessa vida internética. Sabe, acredito que a humanidade está sofrendo de solidão coletiva. A maior parte das depressões é devido à falta de um relacionamento estável. Essa história de globalização, ficar, relacionamentos abertos, está deixando as pessoas sem raiz. Isso traz insegurança, afeta toda a psique do indivíduo e leva ao suicídio. Quando falo em suicídio, quero dizer que não precisa dar um tiro na cabeça ou beber veneno para se matar. Basta desistir de viver, ou as vezes se jogar de cabeça em um coquetel de frutas com rum.
As famílias estão sendo transformadas, os relacionamentos duram pouco e tudo em nome de um sexo fácil e emoções "rasas" - ninguém quer se aprofundar em nada e acabamos no fim da noite em casa sozinhos ou, acordamos somente com a cama enorme sem um bom dia, sem um rosto amigo ao lado.
O sentimento do medo nos invade; medo de apaixonar, de amar, de se entregar. Isto promove desconfiança e acabamos deixando de lado a autenticidade e nos embolamos nos outros e esquecemos o que queremos de verdade. Muitas vezes aquele que encontramos é bom, mas não acreditamos, e ele também não, achando que somos todas iguais! Tudo por uma questão de insegurança, de um inconsciente coletivo que nos diz que nada vai dar certo! Mesmo porque se não der é só separar. Essa é a grande pegada do momento. Nem precisamos mais tentar!
No fundo só queremos ser felizes. Fazer o outro feliz. E podemos! Podemos ser ótimas companhias um para outro. Isto nos faz bem! Podemos até achar que isso é impossível, que não existe.
Mas no fundo sabemos que é tudo uma questão de confiança, segurança, deixar o coração nos guiar. Minha amiga Fa disse que precisamos pensar nossa vida com metas. Na maioria das vezes só conseguimos atrelar nossas metas a alguém, porque no fundo, necessitamos de um vínculo. Não dá para ser feliz sem ele. Seja ele de que jeito for com quem quer que nos ame ou que amemos.
Vínculos - É assim que somos feitos, de sentimentos que nos unem às pessoas... fácil?! Depende da qualidade do amor e da sua capacidade de entendê-lo.

16 agosto, 2011

Sobre a Vida


Pandora me escreveu e me perguntou por que falo tanto sobre a morte. É uma longa história...
Vi um filme uma vez, em uma das cenas, uma menina pintava um quadro enquanto uma linda moça a ensinava sobre os tons. Com o olhar crítico, agudo para sua jovem idade, ela disse à menina: “Cuidado com as sombras! São elas que vão intensificar a luz!”
Da mesma forma eu penso – como poderemos valorizar a vida se não pela morte?
No simples ato de respirar, inconsciente, estamos ligados a tudo. Ao sol que nos aquece, ao vento que nos traz aromas, nas flores que encantam nossa retina, nos sons que inundam nossos sentidos... Notas musicais o tempo todo!
Assim é a música da vida. E dançamos conforme vamos compondo na partitura do destino com nossas escolhas.
Vamos cantando, encantando e desencantando os outros. Da mesma forma somos suscetíveis as nuances da paixão e do amor, cicatrizamos o coração, e preenchemos nossa história com belas e feras.
Não precisamos falar sobre a vida. Melhor senti-la. Melhor vivê-la sem medo. Mesmo assim queremos saber nas runas, no tarô, nos búzios, como vai ser a vida!
A vida é verdadeiramente bela! Nós que às vezes não conseguimos ver a beleza, sentir os tons, pintar as sombras e fazer acender a luz! Ficamos agarrados à sensação de fim, sem vontade, sem perspectiva, ligados no automático.
Mesmo assim a vida continua fluindo através de um inesgotável derrame de energia levando-nos a girar por um caleidoscópio tão sutil que só percebemos que estamos dentro dele quando explodimos em lágrimas ou em risos.
Aí a vida é consumada e sentida novamente.
Na palma da mão quando sentimos a pele de quem amamos; na sola do pé quando sentimos a areia molhada da praia; no prazer do alimento com os amigos; no cheiro do travesseiro quando cansados...
A vida além de bela é simples. Como o riso de uma criança, como o movimento da água no rio. Como uma semente que brota e transforma-se em flor.
A vida é uma verdadeira caixinha de surpresas, cada dia você pode abri-la e tirar de dentro o que quiser.
Pandora estava certa quando abriu a caixa que continha todos os males. A caixa está dentro de nós e abri-la para revelar o que tem dentro é realmente assustador. 
Revelar o conteúdo desta caixa para o mundo faz com que todos os minutos que vivemos sejam transformações, verdadeiramente.
Ou seremos nós que estamos dentro da caixa?
Mas o equilíbrio cósmico não nos deixa sem prumo. Não temos como fugir dele.
Na tela em branco, se não houver o sutil traço para declarar a sombra, como aparecerá a luz?
Afinal, como saberei se a estrada do céu é a melhor se não caminhar pelo inferno?

15 agosto, 2011

Subir em Árvores


Outro dia recebi um e-mail perguntando como eu tinha sobrevivido se nasci antes de 1990? Pois antigamente não existia obrigatoriedade para cintos de segurança, fiscalização de brinquedos, bebidas, enfim, essa parafernália industrial, consumista e cada vez mais paranóica que é nosso mundo. Resposta: Sobrevivi porque subi em árvores!

Você deve estar achando essa resposta sem sentido, mas, deixe-me explicar.
Sobrevivemos (e vamos pensar aqui no plural – eu, meus irmãos, amigos, etc.) porque corríamos, andávamos de bicicleta, montávamos nossos próprios brinquedos, criávamos personagens no nosso mundo real e éramos destemidos.

Nossos anjos da guarda viviam realmente ocupados enquanto o bando todo desembestava ladeira abaixo empurrando um carrinho de rolimã (quê??) ou pra escalar pedras enormes para se jogar lá de cima dentro do rio.
Assim vivemos nossa infância sem medo de ladrões, de seqüestros relâmpagos, de tarados e drogas – sem também computador, fast-food e celular.

Subir em árvores era o máximo. Simplesmente escalávamos os galhos e ficávamos lá em cima, curtindo a vista e esperando o tempo passar.
Enquanto os colegas em baixo gritavam, incentivando, subíamos achando que o mundo era nosso... E era mesmo!

Como seria hoje, subir numa árvore?
Bom, considerando que já nem se encontram árvores pra subir, se isso acontecer vai ser um grande problema. Vai ter sempre um adulto gritando – desce! Isso é perigoso! Você quer se matar menina! As crianças já crescem com alguém gritando que é incapaz. Sinceramente, não queria nascer hoje.
Sem contar que as árvores não são fiscalizadas pelo Inmetro pra saber se podem ser escaladas ou não.

E, cadê o planejamento? Primeiro, precisamos conhecer a árvore, sua origem, idade, se oferece segurança ou não. Vamos precisar de uma mochila com uma caixa de primeiros socorros, caso aconteça alguma coisa, cordas, escadas, chamar os bombeiros, fazer uma inscrição na prefeitura, tirar licença no IBAMA.

Depois vem a escalada, tudo muito seguro, dentro dos padrões de segurança, assistido pela família, com aquelas palavrinhas incentivadoras... Bota o pé aí, minha filha! Aí não! Mas como é burra, também, nunca fez isso antes! - Segura mais em cima, cuidado!

Enquanto a criança sobe, não aproveita os encantos da natureza, passa por uma formiga e não vê, não observa os detalhes do tronco, não assimila a anatomia das folhas, não percebe o ninho de pássaros, não escuta o silêncio interior, de comunhão com o belo.

Chegando lá em cima, uma saraivada de aplausos nervosos que ainda gritam – segura firme! Não vá cair!
Senta-se e olha pra baixo. Vê os rostos nervosos e nem percebe o horizonte, o que está a sua volta... Mais preocupada está na descida, afinal, como vai descer?

Esse planejamento não foi feito, mas, não tem problema, alguém vai pensar em alguma coisa. Afinal, tem tanta gente lá embaixo cuidando dela que é desnecessário preocupar-se com isso.
Infelizmente, é assim que se vive hoje. Perde-se tempo planejando demais, preocupando-se demasiadamente com estatísticas e o tempo se esvai e leva a empolgação, a euforia, a naturalidade, a alegria do momento.

Depois, quando estamos no caminho da subida, não prestamos atenção aos detalhes importantes, só no ato final. E quando finalmente chegamos ao final, já queremos desistir.
Incorporamos esses comportamentos nas relações pessoais, familiares e com nossos colegas de trabalho. Somos impessoais, irresponsáveis, superficiais e burros. Não sabem o que é subir em árvores e descobrir as joaninhas.

Para aqueles que subiram em árvores como eu, lembrem-se da felicidade genuína em viver a escalada em todos os momentos.
Nos pequenos arranhões cobertos com band-aid. Na sensação do vento no rosto, da aspereza dos galhos nos braços, os arranhões nas pernas.

Na confiança dos amigos a nossa volta, rindo e apontando a borboleta noutro galho.
E o silêncio... Ah, você se lembra do silêncio?
E na subida, para aqueles mais medrosos, alguém na frente sempre gritava, destemidamente, encorajando: “Quem chegar por último é mulher do padre!” Mulher era apenas uma palavra de encorajamento e o padre... Bom, só o víamos aos domingos.
Simplesmente a inocência era nosso combustível.
E a risada era nossa oração!

11 junho, 2011

Separação


Separar é difícil, dolorido, vergonhoso. Além de nos sentirmos inúteis, fracassados e humilhados somos ainda rotulados e excluídos. Temos a sensação que nosso mundo se intensifica e que todos os olhares estão sobre nós. O mais engraçado é que a exclusão se dá em um mar de pessoas iguais a nós. Porque afinal, todos se separam. A vida é permeada de situações separatistas e inusitadas. Mas no final, somos nós que escolhemos, conscientes ou não, nós buscamos a separação. Se colocarmos de lado a emoção vamos perceber que na razão já estava escolhido o rompimento.
Esquisito? Vamos voltar ao início. No parto é onde começamos a treinar a escolha de cortar o vínculo com aquele corpo que nos protege e nos alimenta. Mas nós egoisticamente forçamos nossa saída. Pensando bem, nós não queremos ser protegidos nem providos sempre, caso contrário nem nasceríamos. Ficaríamos como parasitas no corpo da mamãe... para sempre!
Nós queremos mais... Queremos desafios, provocação. Somos curiosos, destemidos. E vamos vivendo a vida permeando-a com separações. Largamos as mãos do nosso pai e vamos cambaleando chão afora querendo andar sozinhos. Renegamos a família e nos juntamos ao um grupo uniformizado com a idéia que sermos diferentes porque queremos nos separar do conceito do certo. Nossos valores e vontades brotam desse vulcão interno que tem fome de evolução, tem fome de mudanças, tem sede de movimento, de desapegar!
Mas, em algum momento do caminho ficamos presos na rede do medo da solidão. E enquanto adultos começamos a satisfazer o outro – satisfação que traz infelicidade e castração.
E aquele caminho que estava sendo trilhado com escolhas independentes é bloqueado em nome de tantas coisas que caímos no poço das regras históricas: paixão, amor, familia, filhos, sociedade. Deixamos de ser destemidos e começamos a dar satisfação e não a obtemos de volta.
Separação leva a “estar sozinho” e por que isso é tão temida.
Lembre-se, quando pequenos, fomos nós mesmos que escolhemos quebrar vínculos, tabus. Sem preconceitos nos atirávamos para frente sem sequer pronunciar uma só palavra. Era nosso instinto de liberdade que nos guiava e agora está preso, em algum lugar da mente, abandonado e separado do nosso eu.
Um querido amigo me disse – Amar sem ser amado é como fumar um cigarro apagado. Por que precisamos ser amados de volta? Será que não percebemos que somos seres completos, plenos, capazes e inteligentes? Por que precisamos atrelar nossa felicidade ao outro? Simplesmente porque esquecemos que nascemos da escolha da separação. É através dela que se dá o movimento para a busca de quem somos realmente. Enquanto precisarmos de alguém para nos sentirmos inteiros, vamos nos enganar. Vamos esquecer que no início tínhamos tudo para nos bastar e nos perdemos no caminho.
Separar é mais uma chance que temos para nos encontrar, juntar todos os pedaços perdidos, refazer, entender. Nos conectar a nossa própria essência e espalhar nosso amor por todos os universos ao nosso redor. Eu mesma posso fumar sozinha... posso acender meu cigarro com meu próprio fogo.

21 maio, 2011

Sobre a Morte... Na Vida



Mais uma vez sento, fico olhando a folha em branco e tentando escrever; transformar meus sentimentos, minha vivência em símbolos escritos.
Já escrevi a moda antiga com papel de verdade, caneta, lápis e máquina de escrever. Já digitei e deletei tantas coisas que nem lembro mais. Agora simplesmente vou em frente e vamos ver o que vai dar.
Escrever não é simplesmente tentar coordenar os símbolos em palavras e torná-las coerentes numa frase, no texto. O problema maior é fazê-las ter coerência quando saem da nossa mente, do nosso coração – na maioria das vezes - em golfadas emocionais, onde está tudo misturado, milhões de idéias diferentes, raiva, angústia, ansiedade, felicidade.
Especialmente nesta última semana onde vida e morte confundiram-se num círculo monstruosamente perfeito. Primeiro o casamento tão esperado, depois, um parente é assassinado com cinco tiros em frente à sua casa por querer defender uma mulher - desconhecida - de ser espancada pelo companheiro. Como encontrar coerência? Mas isso é outra história...
Pronto, já estou eu com aquela vontade de apagar tudo novamente.
Onde eu estava??? Ah, sim, pensando na morte!
Cresci com uma curiosidade estranha em saber como era a morte. Acredite ou não, muitas vezes quis morrer só pra saber como seria, o que veria, o que aconteceria “do outro lado”, portanto, a morte tem um sentido diferente pra mim.
As vezes as pessoas me acham insana ou sem sentimentos por causa disso. Ou talvez porque não tenha “perdido” ninguém que realmente significasse algo pra mim. Só sei que já vi muitas pessoas morrerem. Já “perdi” tantas coisas, momentos, tempo, animais, oportunidades, amores, textos, ônibus, paixões, risadas, que se somar tudo, percebo que a morte acontece a todo instante, pois cada segundo que se dissipa, é morto... e vem um outro, novo. Só entendemos a morte se está ligada fisicamente a alguém, pois causa confusão, dor, estupefação. É como se estivéssemos dentro de uma grande ampulheta, tentando nos equilibrar na areia do tempo. E ela escoa, implacável, sem nos dar nenhuma opção.
Ridículo achar que silicone, lipo ou aquele creme mirabolante vai fazer o tempo parar. Afinal, o que importa na vida? Ser boa, ser ética, ser leal, íntegra, linda, maravilhosa? Boa amiga, boa mãe, boa filha. Por que tenho que ser boa? Se houvesse verdadeiro respeito pelas diferenças humanas, bastaria ser. E deveria ser suficiente - mas não é! Afinal respeito é só uma palavra - nada mais!
Em cada estágio do dia o ciclo sempre se completa. Morte-vida-morte-vida e continua infinitamente. Cada hora é um imperceptivel ciclo de morrer e viver. Continuamos a morrer de amor, de vergonha, de solidão. Morremos a cada instante por não sermos ouvidos, acarinhados; e voltamos a vida quando o telefone toca e ouvimos aquela voz tão esperada ou recebemos aquele e-mail - inacreditável!
No final não se perde nada, tudo se modifica numa sucessão de novos momentos.
O livro A Menina que Roubava Livros, me impressionou porque é a morte que conta a história. No início ela diz - "Eis um pequeno fato: você vai morrer. Isso preocupa você? Insisto - não tenha medo. Sou tudo, menos injusta."
Onde está a justiça na vida ou a injustiça na morte? Ou será ao contrário?
De qualquer forma já passei da idade de me preocupar com coisas que não posso resolver e muito menos com conjecturas.
Estou vivendo, simplesmente. Com tudo o que eu tenho, com tudo o que eu sou.
Morrendo a cada instante, vou escrevendo... E vivendo plenamente.

18 maio, 2011

O Balão Vermelho

 
Quando me lembro da minha infância uma imagem salta, muito viva, da minha mente – um balão vermelho!
Eu e meus irmãos, cansados de brincar no parque, deitamos na grama marcada por tantos pés de crianças e ficamos olhando o céu.
Vimos o balão vermelho, brilhante, subindo.
Imediatamente veio a vontade de ter um. Pedimos. Pedido negado!
Continuamos olhando o balão subir, subir... apertamos os olhos para não perde-lo de vista.
Se tivéssemos ganhado qualquer outro balão provavelmente teria tido o mesmo destino porque, se bem me lembro, todo fim de semana que íamos ao parque víamos um balão subindo, solitário, céu adentro, escapado das mãos de alguma criança.
Nunca deixamos escapar um balão. Nunca tivemos um.
Fico me perguntando, por que nunca ganhamos um? Que coisa doida! Talvez porque fatalmente acabaria explodido em contato com a grama ou perdido no ar sem destino.

Como os adultos podem magoar crianças com um simples pedido negado às vezes. Eles não percebem o que realmente tem valor no universo único de uma criança, principalmente quando esta crianças tem irmãos, ou colegas, ou amigos invisíveis.

Mas passou, como tudo. Lembranças não passam. Sentimentos não se esquecem. Vontades que não se realizam ficam na alma esperando respostas.
O melhor de tudo é que me lembro de um raro momento onde estávamos nós tres, unidos pelo balão vermelho que nos amarrava ao seu barbante pelo nosso olhar, pela vontade de resgatá-lo.
Hoje, mais de 40 anos depois, quando penso em meus irmãos, sinto falta de outro momento desses, onde estivemos tão juntos, por causa de um ponto vermelho no céu azul.
Gostaria que tivessem mais balões nas nossas vidas, azuis, amarelos, de todas as cores... Mas percebo agora que nós três, deitados na grama, rindo, tivemos a chance
de ter o balão. Ele foi nosso! Gravado na mente, no meu coração.

Abdução




Ainda que exista um perfeita explicação para tudo, os sentimentos continuarão sendo um mistério porque simplesmente é impossível definir o ser humano. Filósofos, pensadores, psicanalistas, espiritualistas... Será um em especial ou a mistura de todos que poderá nos explicar?
Em um instante de lucidez – porque vivo em meio à loucura – descubro que existe algo muito mais forte - e perigoso - do que a paixão.
Indefinível, pois acredito que ainda não foi inventada uma palavra – acho - para explicar o investimento de sentimentos em alguém, lá, no início.
Aquela fase que de entrega do coração, que abafa a razão e que faz você realizar loucuras – isto é paixão.
Estou falando do antes, do encantamento, da sedução, do passo-a-passo que leva a paixão. Da preliminar que nos leva a beira do abismo.
Seria descobrir, deliciar, deslumbrar, não sei.
Difícil explicar o que se sente quando sentimentos são tão etéreos.
Vai ver é isso! Uma abdução momentânea onde se acredita no outro sem reservas e absorve-se tudo que ele te dá e acredita-se – sem restrições – que tudo é verdadeiro.
Pois é nesta mesma fase onde se destrói com mais força um ser, no pré apaixonamento.
Onde existe uma fenda entre o físico e o espiritual e é ali onde se pode cravar a faca da mentira e fazer brotar a decepção.
Na fase de abdução fica-se vulnerável. Está na mão do outro a chave para sua alma. É preciso ter cuidado, pois é possível conquistar para sempre ou cair em desgraça.
Definitivamente não se pode culpar a paixão, pois ainda não nasceu. Ela está na fase da gestação. Ela nasce depois; é quando o espírito volta a ser um com seu corpo, que brota a paixão, lúcida, vulcanizada, quente, forte, toma conta do seu ser e lança você no inferno.
Quando o outro te abduz é como flutuar no infinito, sem ancoragem.
E quando não é feita a aterrissagem a marca da dor fica para sempre. Desconfiada, distante. A paixão é abortada e lança-se de volta para o âmago e fica lá.
Por isso cuidado. Observe atentamente quando aquele alguém aparecer muito certo, muito cheiroso, muito sorrisos; entendendo tudo de você, com a boca exata, com a mão no lugar certo, ouvindo tudo.
É abdução que está ocorrendo. Este alguém escuta apenas sua vontade interior de querer o que você não quer dar. Seduzindo seus sentidos, falando o que você quer ouvir.
Cuidado... Quando muito queremos algo, o cosmos conspira a nosso favor... mesmo que seja contra.

11 maio, 2011

Vingança


Queria saber me vingar. Ter nas mãos, mais que na mente, essa vontade enorme de fazer mal, de destruir, de escolher matar. Chocadas? Convenhamos! Quem não se sentiu traída, humilhada, impotente, ultrajada - e vocês podem escolher todos os adjetivos que combinem com seus humores e também suas dores - e sentiu brotar essa coisinha malígna que corrói feito ferrugem?
Não é bom saber que aquela criaturinha do além, geralmente o principe psicopata, acabou se estrepando todo?
A Justiça divina em nosso entendimento, lenta e incompreensível, tem Sua maneira de fazer acontecer o que é certo, sempre. Embora algumas vezes não aceitemos esse “certo”. Queremos sim, o errado, para nos sentirmos indenizadas.
Quando nós, seres normais, somos envolvidas no amor, simplesmente não nos conformamos quando este amor é desprezado e subjulgado. Presas no nosso poço de comiseração queremos vingança. Esquecemos que o amor foi o início e deveria ser o fim. Esquecemos de amar nós mesmas. Se o amor fosse realmente amor não sentiríamos vontade de matar. Mas somos humanas. Ainda não compreendemos as nuances do Ser e também não conseguimos, ainda, transcender.
As vezes eu admiro o psicopata, que isento de qualquer emoção, simplesmente nem agradece natureza por não ter dado ao seu cérebro aquele pedacinho que o faz ter remorso, e passa por cima da moral, focalizando somente seu ego.
Mas a admiração acaba quando percebo que ele é apenas uma anomalia que nos ajuda a prestar mais atenção no nosso próprio caminho. Cuidado com ele. Chega lindo, envolvente, cheio de promessas... Perfeito! E essa roupa que o cobre, que nós mesmas o vestimos, é que nos deixará nuas! Essa tendência de projetar nossos desejos nos outros nos torna presas fáceis para esse principe canibal. Porque ele nos come inteiras! Inteligência, alma, corpo, auto-estima. Nos deixa apenas com aquilo que não admitimos e para recuperarmos nossa vestimenta temos que despir o orgulho, lançar no lixo a vingança, lavar a humilhação e resgatar o amor.
Só senti vontade de matar uma vez na minha vida. Estava vazia de compreensão, nua de objetivos, perdida na dor, escurecida pela vingança. Quando fui resgatada pelas mãos da generosidade para os braços do amor, compreendi que tinha apenas valorizado meu poço.
Ainda não aprendi a me vingar, nem preciso.

Aprendi a agradecer por conseguir lidar com todos os meus elementos sem precisar me despir, sem precisar cobrir outros com minha própria capa.

30 abril, 2011

Sobre Leões



Ontem estava assistindo Saia Justa e achei interessante quatro pessoas sentadas, conversando sobre si mesmas, sobre tudo, sobre nada. O interessante sobre ouvir alguém falando é que sempre se aprende algo, mesmo que este algo já esteja lá dentro e precise apenas ser acordado. Enquanto amaldiçoamos as dificuldades do caminho outros acreditam que este processo é cheio de emoções positivas. Enquanto alguns acreditam que “a fase” ou o inferno astral devam ser apenas ignorados ou tratados de maneira agressiva, outros aproveitam cada momento e fazem dele um aprendizado.
Se levarmos em conta que se, de repente, pudermos perceber que as vezes quando tudo está perdido você se dá conta que a perdição é um achado, acontecerá o verdadeiro processo de aprendizagem.
Quando nos perdemos o medo toma conta e aniquila nosso poder de pensar coerentemente. Voltamos a pergunta – por que temos medo? Desconhecimento, claro. Emoções que nos atacam e não estamos preparadas para sentir. Falta de fé, com certeza! Fé em nós mesmas!
Estar aberta para sentir o caminho como todo, pleno, faz com que você se integre ao momento. Liberta os sentidos mais terrenos e vira-se apenas energia. Entende-se que o bem e o mal são parte de um único ser, equilibrado. E deixa de existir, portanto, o bem e o mal.
Um amigo traz dentro da sua carteira um papelzinho com a seguinte frase – “O otimista é aquele que, quando tem que subir na árvore para fugir do leão, ainda consegue admirar a paisagem.”
Isso é se encontrar no momento da perdição. A calma, o conhecimento de si mesma, o otimismo, a fé, são ingredientes indispensáveis para manter o equilíbrio e nos ajudar a encontrar o caminho de volta. Nos ajuda a observar a paisagem enquanto o leão se cansa de esperar e vai embora.
Observando cães e leões lembro do provérbio espanhol – “Quem vive com medo, vive pela metade” – Considerando que um quarto do meu sangue é espanhol, tenho os leões como amigos mas também deixo os cães embaixo da árvore.

27 abril, 2011

Relacionamentos




Discutindo um bom livro, Shibumi, vemos como é possível amar e ser livre.
Tem-se até a impressão – convencionalmente errada, claro! – que a melhor forma de exercitar o desapego é quando se está com alguém que não é livre socialmente. Esta pessoa só pode nos dar seu exclusivo momento presente, em pequenas doses maravilhosas e tão intensas que é melhor que qualquer bodas. E através desta verdade podemos amar sabendo que não existe a posse na aliança. E aproveitamos cada segundo. O vinho tem mais cor, o perfume mais lembrança, a pele mais calor, o riso mais som, o beijo mais sabor.
Tagore disse – “Paixão é fogo que arde e consome os seres, fogo, fogo do inferno, melhor que o céu.”
Se considerarmos a paixão como vivenciar o momento presente intensamente, então é claro que será melhor que o futuro, o céu, pois não sabemos, agora, se ele realmente existe.
O tempo da felicidade a dois é contado através da sua própria capacidade de ser inteiro. A qualidade e não a quantidade é que marca a paixão, por isso, intensidade. Sem restrições, sem cobranças, a verdadeira liberdade dos sentidos.
Amamos porque o outro é imperfeito. Amamos os sapos sim, que são melhores, porque são verdadeiros, afinal, o Principe Encantado não existe. E na imperfeição encontramos sentido em nós mesmas. E nos jogamos nos braços de alguém porque simplemente queremos.
É assim que tem que ser, para fazer fluir a própria essência.
E fora isso, qualquer coincidência não é o acaso, é simplesmente escolha.

16 abril, 2011

Tempo


Quando se fala sobre o tempo se pensa em envelhecer, nas coisas que não foram feitas, no que é preciso fazer. Oh, o futuro! Ah, o passado! E perde-se o presente. Pode ser até um falatório redundante mas a verdade é essa mesma.
O passado tem gosto de melancolia, na maioria das vezes, e o futuro tem cheiro de carro novo – grande sonho! – e inevitavelmente deixamos o presente passar.
Li em algum lugar que presente tem nome de presente porque é um presente e deve ser desfrutado agora, neste momento.
Muito complicado? Vamos ver de outra forma – outro dia estava pensando em voltar à faculdade e pensei - Nossa, quando terminar estarei com quase 50 anos. Tô muito velha pra isso. - E acabei não levando a sério minha vontade. De repente, quando me dei conta dois anos tinham passado. A vontade não. E percebi que se eu tivesse levado em consideração aquele momento presente, teria acrescentado mais dois anos de estudos na minha bagagem.
Perdi, porque minha mente estava focada em algum momento no futuro que simplesmente era ilusão pura. Deixei passar, porque como a maioria das pessoas, eu não levei em consideração meu anseio presente e lancei-o para frente e já o descartei culpando o tempo pela velhice prematura, fazendo de mim alguma coisa inútil. Afinal, o que é velhice? Neste exato momento, enquanto escrevo isso, tenho plena consciência do meu corpo, do meu ser, dos meus pensamentos e não consigo sentir esta velhice.
Embora do lado de fora os outros percebam minha imagem diferente, do lado de dentro a juventude ainda se faz sentir. Sinto que a mente, a energia, a maneira de olhar a vida e compartilhar cada segundo comigo mesma ou com as pessoas, é que dá o ponto da idade.
Na verdade, como disse Richard Bach no livro Ilusões – Você está sempre livre para mudar de idéia e escolher um futuro ou um passado diferente. Quando se tem liberdade, escolhe-se livrar-se do lixo do passado que embota suas novas aventuras e portanto, está livre para abrir suas asas e escolher fazer seu futuro do jeito que melhor te apraz. Isto é viver o momento presente.
Embora alguns associem a liberdade ao cartão de crédito, seu valor é outro. Considerando que entendemos liberdade como utopia, é normal que se não se consiga abduzir a posse. A sociedade nos quer em grupos, normatizados, padronizados, iludidos.
Precisamos entender que a vida passa, tendo o tempo como nosso melhor amigo, e ele segue ao nosso lado, presente, dentro de nós.
Portanto, “dedicando a totalidade da vida no agora, nos tornamos gênios”. E podemos conceder a nós mesmos, todos os desejos!

12 abril, 2011

Amor



Uma amiga me indicou um autor – Leo Biscaglia – encontrei na internet videos de palestras e livros. Assunto? Amor! Escrever sobre amor é, no mínimo, desafiante.
Afinal existem milhões de maneiras de amar, conceitos e trejeitos. Todos certos – ou errados. Depende exclusivamente do universo interior.
Pensando nisso lembrei de seres maravilhosos que influenciaram a história da minha vida: o professor de Biodança, a professora de Taquigrafia, um aluno que foi soldado, um namorado que faleceu, um amigo que desapareceu, uma amiga que virou irmã, uma vizinha que me presenteou cartas de Tarô. Realmente, se for listar todos vou precisar de muitas vidas. Na verdade cada um que se apresenta como anjo ou demônio em na nossa curta jornada neste plano, preenche espaços ou esvazia pedaços, e vai nos moldando.
Claro que já existe uma parte pronta dentro de nós, que já nasceu em algum momento divino e que apenas vai sendo lapidada. Infelizmente para muitos desgarrados, essa oportunidade de conviver é escassa. Então nos deparamos com o desamor representado em sua forma mais crua: assassinatos, violências, explosões, guerras, incompreensão, desrespeito, desprezo, abraços frios, beijos falsos, mentes com pressa.
Temos que prestar atenção pois podemos ser mais uma vítima do outro em sua sociopatia. Manter o coração puro e a mente reta dá trabalho. Mais trabalho ainda é manter a autoestima elevada e a imagem no espelho satisfeita. Amar alguém é difícil pois queremos sempre retribuição.
Sentir amor é complicado porque não conseguimos deixá-lo livre. O amor traz sofrimento porque não entendemos sua forma divina de simplesmente ser. Aí quase desistimos. E nos encontramos sozinhas.
Neste momento único, de resgate de mim mesma é que mora a oportunidade de apoderar o meu próprio ser e entender que ele brota dentro de mim e pode ter a forma que eu quiser e ir para onde eu determinar.
A intensidade que eu permitir e a quantidade que eu puder aguentar.

11 abril, 2011

Inferno e Céu


Nem sempre precisamos de um divã ou de vinho para fazer fluir boas conversas. Até sentadas à mesa na hora do almoço em um refeitório barulhento, podemos fabricar verdadeiras jóias.
Devo ressaltar aqui que apenas registro sentimentos e palavras daquelas que co-habitam comigo o mesmo território de trabalho. Jamais poderia, sozinha, expressar tanta experiência e vivência. Meu coração ainda não está maduro o suficiente para isso. Minha alma está muito aquém de tanta sabedoria. Mas, com ou sem vinho, vamos tentando atingir o Nirvana, ou ainda o Shibumi.
A paz, o belo, a felicidade, enfim, tudo isso descobrimos que não são utopias. Somos sempre enganadas pensando que jamais seremos um inteiro e apenas uma “metade da maçã”. Que maçã que nada! Podemos ser abacaxis, frutas de conde, melancias ou até bananas, mas seremos completas! Uma amiga disse que a sua estrada da vida é cheia de pedras e ela vai tentando arrancar uma a uma do caminho.
Será que ela vai assim, encontrar o caminho do céu? Na verdade – disse ela – Eu estou tentando fazer o céu dentro de mim. O inferno está do lado de fora. No caos de todos os dias, onde se misturam sentimentos com acontecimentos, verdades com meias mentiras, idas e vindas, perdas e encontros, somos solapadas por fluxos infinitos de energias de todas as espécies.
Se nos deixarmos levar por tudo que nossos sentidos captam, se nos deixarmos vencer pela ilusão do outro, então verdadeiramente, deixaremos o inferno entrar.

10 abril, 2011

Caminho Difícil



Estou beirando os 50 e há pouco tempo descobri que o preconceito com a mulher está arraigado no nosso espírito. É muito mais que cultural, que histórico, que genético. Talvez seja culpa da sociedade ou nossa própria.
O que sei realmente é que enquanto os homens se juntam para se defender nós mulheres atacamos umas às outras e defendemos os homens. Quer maior preconceito que este??? Enquanto minha idade cronológica avança, sinto meu espírito se libertar de tanto lixo que estou vivendo um momento sublime. Difícil acreditar.
Talvez minha terapeuta encontre aqui milhões de razões para mais uma receita com florais e isto me faz rir. E é tão bom! E esta liberdade tem a ver com as outras, especificamente. Ouvir a mulher que está perto de nós é como descobrir a nós mesmas. Almas gêmeas, ao contrário do que os contos de fadas nos iludiram, não é o príncipe encantado, mas sim a amiga que se desencanta e revela-se como um pedaço da nossa própria alma.
Sentir, prestar atenção, escutar de verdade, além de fazer a diferença, faz a igualdade também. É quando se descobre na outra seu próprio universo de solidão, de amor, de esperança, de alegria. Igualam-se as tristezas e multiplicam-se os sonhos.
Aí você consegue escutar seu próprio coração num eco quando ouve "Se eu escolhi te amar pelo caminho mais difícil é porque eu posso" E podemos. Podemos amar sim, sem medo.
Podemos escolher qualquer caminho sim, sem medo.
Porque simplesmente somos capazes de ser inteiras, livres, e felizes.

Curiosos