Pandora me escreveu e me perguntou por que falo tanto sobre a morte. É uma longa história...
Vi um filme uma vez, em uma das cenas, uma menina pintava um quadro enquanto uma linda moça a ensinava sobre os tons. Com o olhar crítico, agudo para sua jovem idade, ela disse à menina: “Cuidado com as sombras! São elas que vão intensificar a luz!”
Da mesma forma eu penso – como poderemos valorizar a vida se não pela morte?
No simples ato de respirar, inconsciente, estamos ligados a tudo. Ao sol que nos aquece, ao vento que nos traz aromas, nas flores que encantam nossa retina, nos sons que inundam nossos sentidos... Notas musicais o tempo todo!
Assim é a música da vida. E dançamos conforme vamos compondo na partitura do destino com nossas escolhas.
Vamos cantando, encantando e desencantando os outros. Da mesma forma somos suscetíveis as nuances da paixão e do amor, cicatrizamos o coração, e preenchemos nossa história com belas e feras.
Não precisamos falar sobre a vida. Melhor senti-la. Melhor vivê-la sem medo. Mesmo assim queremos saber nas runas, no tarô, nos búzios, como vai ser a vida!
A vida é verdadeiramente bela! Nós que às vezes não conseguimos ver a beleza, sentir os tons, pintar as sombras e fazer acender a luz! Ficamos agarrados à sensação de fim, sem vontade, sem perspectiva, ligados no automático.
Mesmo assim a vida continua fluindo através de um inesgotável derrame de energia levando-nos a girar por um caleidoscópio tão sutil que só percebemos que estamos dentro dele quando explodimos em lágrimas ou em risos.
Aí a vida é consumada e sentida novamente.
Na palma da mão quando sentimos a pele de quem amamos; na sola do pé quando sentimos a areia molhada da praia; no prazer do alimento com os amigos; no cheiro do travesseiro quando cansados...
A vida além de bela é simples. Como o riso de uma criança, como o movimento da água no rio. Como uma semente que brota e transforma-se em flor.
A vida é uma verdadeira caixinha de surpresas, cada dia você pode abri-la e tirar de dentro o que quiser.
Pandora estava certa quando abriu a caixa que continha todos os males. A caixa está dentro de nós e abri-la para revelar o que tem dentro é realmente assustador.
Revelar o conteúdo desta caixa para o mundo faz com que todos os minutos que vivemos sejam transformações, verdadeiramente.
Ou seremos nós que estamos dentro da caixa?
Mas o equilíbrio cósmico não nos deixa sem prumo. Não temos como fugir dele.
Na tela em branco, se não houver o sutil traço para declarar a sombra, como aparecerá a luz?
Afinal, como saberei se a estrada do céu é a melhor se não caminhar pelo inferno?
Th disse - "Maravilha minha irmã! Cada vez que leio um texto seu, meus olhos passeiam pelo infinito! Maravilha, deleite... Ainda hoje estava pensando sobre convenções, regras que vão nos ensinando pela vida a fora e que muitas vezes, presos a elas, deixamos de viver. É claro que as regras são necessárias, principalmente quando somos crianças, mas, não seriam elas, as regras, como a etiqueta: algo que devemos conhecer para usar quando necessário? Vivo e me deixo levar pela vida com o absoluto cuidado de fazer mal a ninguém, não propositadamente, não dolosamente... E se o deixar-se levar pela vida implicar em infringir alguma regra? E se o resultado desse infringir me faz feliz, que mal ha nisso? Não seria o mesmo que a dicotomia do traço de sombra que faz ver luz? Vivamos, pois, e sejamos felizes!"
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