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Trabalhamos embarcadas, offshore, dentro d’água, como queiram. As palavras para explicar essa maneira de ganhar a vida, ou ganhar o sagrado dinheiro para viver a vida, tem muitos nomes. Mas, o importante é o que se ganha na convivência. Neste mundo muito diferente, temos o privilégio da intimidade quando descobrimos a beleza no interior dos seres mais incríveis. Verdadeiros presentes em palavras pois é o que podemos aqui compartilhar. Pérolas que não vão adornar o corpo mas com certeza vão fazer crescer o valor da alma de cada uma de nós. Se nem tudo que se mostra é belo, não importa. Se percebermos o equilíbrio, vai ficar tudo bem!

15 agosto, 2011

Subir em Árvores


Outro dia recebi um e-mail perguntando como eu tinha sobrevivido se nasci antes de 1990? Pois antigamente não existia obrigatoriedade para cintos de segurança, fiscalização de brinquedos, bebidas, enfim, essa parafernália industrial, consumista e cada vez mais paranóica que é nosso mundo. Resposta: Sobrevivi porque subi em árvores!

Você deve estar achando essa resposta sem sentido, mas, deixe-me explicar.
Sobrevivemos (e vamos pensar aqui no plural – eu, meus irmãos, amigos, etc.) porque corríamos, andávamos de bicicleta, montávamos nossos próprios brinquedos, criávamos personagens no nosso mundo real e éramos destemidos.

Nossos anjos da guarda viviam realmente ocupados enquanto o bando todo desembestava ladeira abaixo empurrando um carrinho de rolimã (quê??) ou pra escalar pedras enormes para se jogar lá de cima dentro do rio.
Assim vivemos nossa infância sem medo de ladrões, de seqüestros relâmpagos, de tarados e drogas – sem também computador, fast-food e celular.

Subir em árvores era o máximo. Simplesmente escalávamos os galhos e ficávamos lá em cima, curtindo a vista e esperando o tempo passar.
Enquanto os colegas em baixo gritavam, incentivando, subíamos achando que o mundo era nosso... E era mesmo!

Como seria hoje, subir numa árvore?
Bom, considerando que já nem se encontram árvores pra subir, se isso acontecer vai ser um grande problema. Vai ter sempre um adulto gritando – desce! Isso é perigoso! Você quer se matar menina! As crianças já crescem com alguém gritando que é incapaz. Sinceramente, não queria nascer hoje.
Sem contar que as árvores não são fiscalizadas pelo Inmetro pra saber se podem ser escaladas ou não.

E, cadê o planejamento? Primeiro, precisamos conhecer a árvore, sua origem, idade, se oferece segurança ou não. Vamos precisar de uma mochila com uma caixa de primeiros socorros, caso aconteça alguma coisa, cordas, escadas, chamar os bombeiros, fazer uma inscrição na prefeitura, tirar licença no IBAMA.

Depois vem a escalada, tudo muito seguro, dentro dos padrões de segurança, assistido pela família, com aquelas palavrinhas incentivadoras... Bota o pé aí, minha filha! Aí não! Mas como é burra, também, nunca fez isso antes! - Segura mais em cima, cuidado!

Enquanto a criança sobe, não aproveita os encantos da natureza, passa por uma formiga e não vê, não observa os detalhes do tronco, não assimila a anatomia das folhas, não percebe o ninho de pássaros, não escuta o silêncio interior, de comunhão com o belo.

Chegando lá em cima, uma saraivada de aplausos nervosos que ainda gritam – segura firme! Não vá cair!
Senta-se e olha pra baixo. Vê os rostos nervosos e nem percebe o horizonte, o que está a sua volta... Mais preocupada está na descida, afinal, como vai descer?

Esse planejamento não foi feito, mas, não tem problema, alguém vai pensar em alguma coisa. Afinal, tem tanta gente lá embaixo cuidando dela que é desnecessário preocupar-se com isso.
Infelizmente, é assim que se vive hoje. Perde-se tempo planejando demais, preocupando-se demasiadamente com estatísticas e o tempo se esvai e leva a empolgação, a euforia, a naturalidade, a alegria do momento.

Depois, quando estamos no caminho da subida, não prestamos atenção aos detalhes importantes, só no ato final. E quando finalmente chegamos ao final, já queremos desistir.
Incorporamos esses comportamentos nas relações pessoais, familiares e com nossos colegas de trabalho. Somos impessoais, irresponsáveis, superficiais e burros. Não sabem o que é subir em árvores e descobrir as joaninhas.

Para aqueles que subiram em árvores como eu, lembrem-se da felicidade genuína em viver a escalada em todos os momentos.
Nos pequenos arranhões cobertos com band-aid. Na sensação do vento no rosto, da aspereza dos galhos nos braços, os arranhões nas pernas.

Na confiança dos amigos a nossa volta, rindo e apontando a borboleta noutro galho.
E o silêncio... Ah, você se lembra do silêncio?
E na subida, para aqueles mais medrosos, alguém na frente sempre gritava, destemidamente, encorajando: “Quem chegar por último é mulher do padre!” Mulher era apenas uma palavra de encorajamento e o padre... Bom, só o víamos aos domingos.
Simplesmente a inocência era nosso combustível.
E a risada era nossa oração!

5 comentários:

  1. Navegador disse: "Esse texto foi para mim uma leitura sobremaneira enriquecedora - fez-me lembrar de uma vez que subi numa jaqueira. Como alguns galhos da árvore chegavam bem próximo do chão, subi por um deles. Quando atingi um ponto relativamente alto, em um galho grosso e seco, havia uma bela touceira de gravatá (espécie de bromélia). Ao me aproximar dessa planta deparei com uma rodilha de jararacuçu que ali dormia o sono dos justos. Bem, para subir devo ter gasto cerca de 10 minutos. Quanto à descida, acredito não ter durado um minuto. Um grande abraço"

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  2. S. disse - "que texto lindo e profundo, Adoreiiiiiiii!!! Que finalização espetacular!!!!!!!! Lindo, lindo lindo e lindo!
    Beijosssssssssss"

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  3. Mi disse - "Somos realmente privilegiadas, a geração de hoje, nem sabe como nasce uma árvore, a não ser através do tal "colheita feliz" (só ouço falar, mas sei que é no computador), em que se planta, se colhe, etc. No futuro, nem o sol eles saberão o que é..."

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  4. S. disse - "Que lindo! Adorei a frase " a risada era nossa oração" ...a inocencia nos protegia !!!!Eu subi muitooooooo em arvores! "

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  5. Hoje é 13.06.13 e que maravilha ler esse texto!! Texto lindo e acima de tudo verdadeiro,pois vivemos um tempo imediatista,onde as pessoas estão sempre preocupadas com o que virá e esquecem de viver o momento,apreciá-lo.Esquecem de valorizar o "presente",que realmente é o presente que todos dias temos e é rico nas entrelinhas..basta saber enxergá-las no meio do burburinho,dos compromissos,dos planejamentos...Viver cabe na exatidão do título do texto; "Subir em árvores",como também cabe na metáfora que poderíamos usar: "Subir em árvores"...Que não venhamos perder a capacidade de subir nas árvores,que não venhamos esquecer o quão bom é viver,mas viver de verdade,com entrega...Sim,"a risada era nossa oração".

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