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Trabalhamos embarcadas, offshore, dentro d’água, como queiram. As palavras para explicar essa maneira de ganhar a vida, ou ganhar o sagrado dinheiro para viver a vida, tem muitos nomes. Mas, o importante é o que se ganha na convivência. Neste mundo muito diferente, temos o privilégio da intimidade quando descobrimos a beleza no interior dos seres mais incríveis. Verdadeiros presentes em palavras pois é o que podemos aqui compartilhar. Pérolas que não vão adornar o corpo mas com certeza vão fazer crescer o valor da alma de cada uma de nós. Se nem tudo que se mostra é belo, não importa. Se percebermos o equilíbrio, vai ficar tudo bem!

24 setembro, 2015

Jose Roberto


Há muito tempo atrás, quando crianças, em Brasília, brincávamos juntos de pique-esconde, queimado, finca, cinco marias, corda, elástico, bicicleta, pipa. Sentávamos em círculos em baixo do bloco quando chovia e inventávamos brincadeiras. E nessas raras chuvas procurávamos poças d`água para catar girinos.
Criança sempre inventa. Criança tem aquele jeitinho flexível de se auto-organizar, pulando as barreiras da vida com uma energia que parece não ter fim. Só que elas crescem, e no meio deste caminho - tão preocupadas estão com a vida - esquecem a morte. Também, ninguém quer acabar com a brincadeira! Tem uma bola para perceguir, alguém para competir, uma mentira "branca" para contar e tornar-se o chefe da turma.
Todos querem lembrar dos sorrisos, das gargalhadas fáceis, dos olhares curiosos e movimentos furtivos. Aquelas cutucadas rápidas, cúmplices, e as subidas nas árvores. Lembrando disso nós fazíamos guerra de "xixi-de-gato". Para quem não sabe, esta árvore, tulipeira do gabão, (Spathodea campanulata) tem um botão floral em forma de bisnaga que contém água perfumada. Nós usávamos nas brincadeiras e o objetivo era esguichar o líquido um no outro, gritando: "xixi de gato!". A seiva provoca manchas amarelas nos dedos e na roupa, o que deixava nossas mães ligeiramente furiosas e nos faziam descer das árvores e tirar as bisnagas dos bolsos - diga-se de passagem: tarde demais!
Por isso crianças não pensam na morte. Elas estão preocupadas com a vida, com a próxima brincadeira, na visita à casa do amiguinho, com os possíveis castigos - (aliás, castigo e a chinelada é o que se pensa estar mais perto da morte). E nós, adultos, empurramos lá para o fundo da mente esta sombra impalpável, e nos agarramos aos bons momentos, cultivamos lembranças lindas e felizes e alimentamos nossos dias sombrios.
Mas será que a morte existe mesmo? Será que a ausência física pode apagar tantos anos de presença? Prefiro escolher um NÃO! Até nas cartas de tarô o esqueleto, mais comum símbolo da morte, pode ser uma mudança indesejada, uma guinada radical na vida, uma fase passageira que irá fazer você trocar de pele.Agora, pensando em um dos meus amigos de infância, que a vida teve o capricho de afastar fisicamente deste plano, tenho a sensação que nada vai afastar o laço que foi criado naquela infância agitada, junto com seus irmãos e irmãs. O amor não acaba nunca. Pessoas boas estão sempre presente em nossos corações. Choro sim, porque fico aqui e sinto ver a tristeza que foi gerada pelo vácuo da sua personalidade marcante. Lamento pela surpresa que foi sua partida, sempre pensamos que vamos durar para sempre e que nosso corpo é feito de pedra. Agora que somos adultos, deveríamos pensar em ensinar às crianças que a brincadeira acaba. Mas isso não iria servir para nada. Elas não entenderiam. Pois sua conexão com o divino é puro e sabem que nada se perde – talvez só umas bolinhas de gude! E quando penso em você, sua imagem é tão alegre que me faz sorrir, me dando um alento. A doçura de sentimentos que você deixou para mim é tão nobre, que só posso agradecer pelo tempo que tive o privilégio de conhecer você. Abraço uma das famílias mais lindas que já conheci: Seu Chico, Antonieta, Denilson, Ana Paula, Julieta, José Roberto, Francisco. Seu coração sempre foi nobre, cativante, íntegro. Coração de menino que trazia sempre alegria onde quer que fosse. Vai ver, foi por isso que ele parou de bater, porque a brincadeira acabou, era hora de descer da árvore e virar gente grande!

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