“Quando você começa a envolver o emocional
em tudo o que você faz, você se acorrenta ainda mais.”
Esta foi a primeira frase que encontrei,
por incrível que pareça, depois de dois anos, em um caderninho, minhas memórias
sobre a viagem que eu e Sandra fizemos pela Europa. Um loop da Inglaterra até
de volta a ela! Passamos pela França, Italia, Suiça, Alemanha, Holanda e
Belgica. No meio disso tudo, em 21 dias, muitas impressões. Aqui vão algumas
delas.
Anjos.
Você acredita em anjos? Eu sim. Depois de
visitar uma amiga de infancia em Londres, ela nos indicou o caminho pelo
“tube”, metro de Londres, para chegar até Canada Water e nos encontrar com o
grupo. Fácil! Interessante como os anjos nos ajudam nas simples descobertas.
Grandes espiritos de luz. Obrigada. Nunca tinhamos estado ali e não sabíamos
exatamente para que lado seguir. Então, procurando o lugar, eu vi escrito no
carro o símbolo da excursão “Expat”. Quando chegamos perto o que vimos eram latas
de lixo verdes, e pronto! Não tinha nada escrito! Rimos muito. Eu e minha
dislexia angelical.
Amigas.
O convívio nos dá a impressão que somos
simples e bem entedidas. Errado. Estamos sempre conjecturando sobre os outros e
cometemos o erro de não perguntar – e perdemos a melhor parte. Nos afastamos da
essência e ficamos no superficial. Nos deixamos levar pelos nossos próprios
valores e esquecemos que a outra também tem um coração. Igual ao seu!
As pessoas buscam amor sem saber que ele
está diretamente ligado à liberdade.
Paris
Bon soir de araque. França é latina, suja,
barulhenta, velha e cinza. As pessoas se julgam mais importantes e os homens
tem aspecto andrógeno. Igual e muito diferente. Vive le Brasil! A arte, a
cultura, é claro, imcomparáveis, como qualquer outra.
Mas o pão, não! Quem chamar o nosso pão de
pão francês merece cadeia. Aqui o pão é duro e torrado. Como bons brasileiros
melhoramos isso também.
Aos olhos virgens do visitante tudo é muito
lindo, digno de fotos. Enquanto paramos para registrar 360 graus de história,
os nativos passam por nós com os ouvidos tapados com earphones dos i-qualquer-coisa
e sequer percebem que os degraus de mármore da praça estão tão gastos que
formaram um outro degrau.
O Louvre.
É o único lugar limpo da cidade. Impossível
conhecer tudo em um dia. Precisaria morar aqui para conhecer tudo. Monalisa –
Gioconda – está perdida e solitária numa proteção de vidro em uma sala enorme
com a Santa Ceia mais maluca que já vi alguém pintar, do outro lado. E lá está
ela, olhando todos com aquela cara infeliz. E os que olham para ela, pensam que
são felizes por estarem ali, fotografando-a. É uma sinfonia de diafragmas
estalando por todos os lados. Foto da pintura atrás do vidro. O que é mais
importante? Ter a foto? Provar que viu a Monalisa? A presença na sala pouco
significa. Está mais distante do que Da Vinci agora. Se você conseguir uma foto pela internet
vai conseguir ve-la melhor.
E nos perdemos no metrô, novamente!
(risadas)
Choveu, fez sol, fez frio, fez calor. Dia perfeito em Paris!
Ah, fui até pedida em casamento. Mas quando
ele pediu dinheiro, eu desisti. Não tinha dote!
É absurdo a quantidade de situações
inusitadas que passamos. Ser turista é uma arte!
Sonhos.
Alguém me disse, ou foi um sonho –“ Eu não quero que sejamos amigos. Não é uma
questão de amizade. É uma questão de energia! Siga seu coração e você não irá
se machucar. Acredite nas coisas que você sente. Seja egoísta um pouquinho. Não
é uma maldição. É um caminho para a liberdade. Suas escolhas vão guia-la bem.”
Avignon.
Tudo muito deserto. Jantamos salada e um
frango esquisito. O local da cidade onde ficamos é cercado por muros onde no
centro é o palácio do Papa. Muito lindo. Muito antigo. Muito sinistro. Saímos
de manhã para fotografar com um dos colegas indiano da excursão. Ele mora no
canadá a 10 anos e é meio maluco. Afinal, quem não é? Engraçado como algumas
pessoas sentem vergonha das suas origens. Ele disse que é canadense mas tem um
sotaque denunciante. Incrível! Depois de muito fotografar as pedras voltamos
correndo na chuva. Na hora de voltar ele queria ir para o outro lado. Depois de
uma brevíssima discussão eu simplesmente saí andando pela direita e Sandra me
seguiu sem pestanejar. Ele cedeu, pois então ficaria sozinho, e veio atrás de
nós duas. Meu GPS natural funciona maravilhosamente bem. Chegamos no onibus a
tempo! Obrigada!
Vinhos.
Visitamos um castelo que fabrica vinhos na
região de Burgundy. Compramos vinho (pagamos caro). O vinho espumante é
delicioso! Ganhamos rolhas... veja só! Gostei do cachorro que nos recebeu em
uma espécie de porão onde guardam os imensos barris. Bicho preto, sociável,
simpático. Uma cadela. Tiramos fotos. Ela era mais interessante que o cheio de
álcool que estava no ar... e a chuva, e o mofo, e os fantasmas...
Pont Du Gard.
Ponte Romana. Linda! Mais uma caminhada na
chuva. As fotos estão fantásticas. No caminho, um monte de nozes do Tico e
Teco. Arrecadei algumas que estavam no chão. Elas estão aqui, agora, em cima da
minha mesinha, olhando pra mim... vieram de tão longe!
Riviera Francesa
A Riviera é linda. A paisagem fantástica!
Não é a toa que uma casinha aqui custa um milhão de dólares! Mais memórias de
filmes. Mais memórias de vidas que estão guardadas em algum lugar.
Perfumes
Visitamos uma fabrica de perfumes chamada
Fragonard. Comprei um kit pequeno e caro. Tudo é caro ou eu não ganho o
suficiente para simplesmente deixar que o dinheiro escoe pelos meus dedos sem
fazer contas. Afinal, fazer uma viagem e ficar contando moedas não combina.
Como disse minha amiga Luciana, quem converte não se diverte. Então, vamos
aproveitar! O kit com 5 fracos de aluminio irão durar 9 anos, segundo a linda e
maravilhosa vendedora/quimica/marqueteira da perfumaria. Acredito nela
desesperadamente. Afinal, quero que o perfume dure mesmo! Minha companheira de
viagem comprou um kit juventude.... muitas e muitas risadas... juventude está
no espirito. Vamos rir!
Nice.
Muita gente linda. Homens lindos. Os homens
tem uma fisionomia perfeita. Não é a toa que um colega saiu do armário e veio
morar aqui. É perfeito! Caminhamos por toda a cidade com um mapa e o celular
com GPS da Sandra. Adoro essa tecnologia. Pegamos o onibus e fomos até a parte
mais alta. Andamos de trem. Tudo é muito simples e civilizado. Não existem
roletas no transporte público. A consciência coletiva é imbatível. Ninguém te
cobra nada. Simplesmente você faz porque todos fazem e é assim que o sistema
protege você e você protege o sistema. Seguir o correto faz parte da educação
que está arraigada no sangue do povo.
Charles De Gaule estava lá, numa estátua no
meio da praça, na feira pública. Quanto termina o horário da feira vem a limpeza
pública e lava a calçada. Os pombos fazem a festa. Aliás, uma ave global.
Existe algum lugar aonde elas não estejam?
O jantar estava maravilhoso. Vinho, uma
salada maravilhosa, massa. Nem consegui comer tudo. Quase pedi para embrulhar
para levar para o “gatinho”. Fantasmas no quarto.
Florença.
Caminhamos pela cidade a noite. Nas janelas
das casas pude ver nos rostos das mulheres traços das minhas tias. Parece que
cada passo, cada pedra, tem sensações e cores únicas. Ninguém percebe, ou já
estão tão acostumados que fazem parte da energia que os abraça. Hotel
barulhento, cheio de fantasmas e camas rangendo. Foi só uma noite,
inesquecível!
Veneza.
Me senti em casa, novamente! Andar em
Veneza é fácil. Nem precisei de mapa. É só seguir as placas amarelas para onde
você quiser ir. Antonio nos levou no passeio pelos canais na gondola que ele
disse estar na família há 4 gerações. Ele tem 40 anos e faz isso desde os 9 anos.
Eles são mestres nesta arte. É bonito ve-los manejar o barco como se fosse a
coisa mais simples do mundo.
Suiça.
Lauterbrunnen - Quando mais eu subo, mais
lindo fica! As montanhas, o cenário. Até a água é melhor. Subimos até o topo e
descobri que a neve me apavorou. O frio é ótimo e ofuscante. Gente caindo e
escorregando. Lembranças de um acidente comigo e um esquiador, explodiram no
meu peito. Saímos dali rápido e nos enfiamos em um dos túneis de puro gelo. As
esculturas são incríveis. O chão escorregadio e a atmosfera macabra. Tudo fazem
para explorar o turista. Nós agradecemos a criatividade! Encontrei um relógio
lindo para minha afilhada: suíço, com uma corrente para pendurar no pescoço.
De volta ao hotel fizemos uma caminhada até
a cachoeira, por dentro da montanha. Visitando as casas e os currais com as
vacas e os carneiros, não resisti e passei a mão em um deles. São mansos,
esperam comida. E as vacas tem sinos nos pescoços. Desenho animado! Hotel
Schutzen com uma cama divina e cobertor japonês. Frigobar é só abrir a janela.
A montanha é logo ali, depois do telhado. Capuccino delicioso no café na
esquina.
Boppart.
O castelo de Loreley. A mulher que se
atirou da montanha, dentro do rio Reno, para não se casar com quem não amava.
Até hoje os marinheiros que passam na área tem medo de sofrer algum naufrágio.
Segundo a lenda, é ela que chama os homens para dentro d’água. Enquanto
passeávamos pelo Vale do Reno em um barco, vimos o castelo ao longe. Café,
vinho, conversa, silêncio. Aliás, o café é ótimo. Nem coloquei açucar! http://www.youtube.com/watch?v=GboWNnxMgys
Alemanha é mais organizada, os homens são
mais feios, as pessoas mais gordas e fumam mais. Não vi mulheres grávidas. As
crianças pequenas são estrangeiras, na maioria.
O país é muito bonito. Ao longo da estrada
vimos plantações de batatas, couve, repolho. Caminhões de batatas vão e vem. Hotel
quentinho, carpetado. Internet zero. Chuveiro com hidromassagem, cama ótima. Um
monte de janelas no quarto enorme. Eta vida boa!
Amsterdã.
Isso aqui é uma bagunça. Homens altos e
lindos. Meio cínicos. Irônicos. Acredito que saibam da sua beleza. Afinal, auto
estima é tudo! Carro, trem, bicicleta, onibus, gente, malas, carrinhos de
bebês, tudo ao mesmo tempo, agora em seus tamancos! Indo e vindo. Numa confusão
organizada entre buzinas, sinais de transito e guardas. Passeamos no famoso
bairro vermelho. As mulheres na vitrine não são melhores nem piores do que as
brasileiras que encontramos nas nossas praias. O mais interessante são as
vitrines com neon azul e vermelho. A cor vermelha é para as mulheres. A cor
azul identifica o travesti. Tem para todos os gostos. Na verdade, Napoleão é que
pedia para seu médico examinar as mulheres que acompanhavam a tropa a fim de identificar
alguma doença. Se elas estivessem “limpas” ganhavam um cartão vermelho. Adoro
história! E no final das contas não provamos os famosos brownies com maconha!
Os nomes todos terminam em Dam. Hotel frio, sem tapetes. Andamos muito até
chegar no quarto. A vista maravilhosa para os barcos na marina.
Quando cheguei em Volendam liguei para meu
pai. Perguntei para ele se adivinhava onde eu estava. Ele acertou na primeira
tentativa! Tirei fotos e mostrei para ele depois. Reconheceu vários locais
apesar do tempo. Ele ficou emocionado e eu também. É isso que levamos dessa
vida!
Belgica.
Voltando para Londres, pela fronteira com
Belgica e França. Encontramos um fiscal na alfândega no final da carreira.
Gordo, careca, antipático. Toda a linguagem corporal nos dizia que a inveja e o
mau humor imperava naquele ser de baixa estatura. Ignorante e arrogante. Ele
pediu o e-ticket da passagem de retorno ao Brasil e eu mostrei o recibo da
passagem. Não foi suficiente. Ele sequer leu o papel. Começou a complicar e depois
de muito conversar e sugerir outras coisas, perguntou nossa profissão. Quando
falei Petrobras ele mudou de atitude. Infame! Carimbou nosso passaporte e falou
umas besteiras. Conseguimos passar. Como se nós quiséssemos ficar ali e lavar a
louça dele. Longos dez minutos.
Londres.
Do hotel para o aeroporto de Heathrow foi
outra odisséia. Duas horas e quarenta minutos trocando de linhas e arrastando
malas. Povo educado, nos ajudando nas escadas. Ninguém liga se você tem mala
grande ou pequena, se você fala inglês ou chinês. A educação é a melhor arma
que alguém pode ter. Com licença, obrigado, desculpa. Abrem-se as portas da
gentileza e todos somos felizes para sempre! E quando cheguei em casa descobri
que meu cartão de crédito tinha sido clonado no Holiday Inn, em Londres. Isso
não é muito chique???
Lugares.
De tanto ver filmes não vejo nada de novo.
A impressão é como voltar para casa. Melancolia. Como é possível sentir que
está matando a saudade de um lugar que nunca estive, pelos menos fisicamente,
nesta vida? Cada canto, cada espaço tem um pouquinho de deslumbramento e
paixão, é parte da vida. Observar minha companheira de viagem brilhar os olhos
com tudo que vê como se fosse a primeira vez é interessante. Em alguns momentos
percebi que estou por aqui sempre. Muitas coisas são parecidas com o Brasil. As
flores, as paisagens, as árvores. Realmente o mundo era um só e se partiu em
muitos e a humanidade mudou sua língua e seus costumes. Vai ver é por isso que
é tão difícil aceitar o que é diferente, portanto, difícil amar, pois tudo se mistura e já não entendemos nossa
própria origem.
É verdade que tudo depende do ponto de
vista. Suas emoções controlam praticamente tudo, mas, educação e respeito faz
parte do todo. Nivelar as pessoas pelo que somos ou fazemos nos faz sofrer.
Entendo e respeito o jeito de ser dos outros mas isso não significa que aceito.
É no aceitar que deixamos as emoções tomarem conta. A razão não prevelece e
acabamos invadindo o território alheio. Paciência. Temos muito que aprender
ainda. Talvez precisemos de um retiro longe do mundo para aprender a lidar com
a falta de carinho, amor, suavidade. “Há que endurecer sem perder a suavidade.”
Ele sabia. Guevara sabia quando falou isso. Ele sentia. Embora tivesse na cabeça
a vontade da guerra, ele carregava no coração o olhar do amor. Lembrei da
musica, “You gotta be”, da Desiree. Ela
canta – “Você tem que ser mau, destemido, sábio, duro, forte, com garra,
tranquilo, equilibrado, desencanado. Pois o amor vai salvar o dia.” http://www.youtube.com/watch?v=JhpZfltbnAQ
Amiga!
ResponderExcluirBelíssimo!
O tempo não existe!
Como é maravilhosa a neurologia da memoria,em cada sinapse uma corrente elétrica que nos leva ao um passado que esta sempre presente.
Obrigada,suas memorias me levaram ao nosso começo como exploradores ,penso que estávamos na buscas de nós mesmos,de nossas raízes.
Eu mudei e percebi que sempre podemos mudar,somos seres dinâmicos e precisamos disso.
A vida nos torna singular quando nos encontramos com o nosso Eu.
Aiii...descobrimos que o amor é simples,e que complicamos por nossas necessidades.
Beijos no coração amiga ,e continue escrevendo,o mundo precisa saber que ser singular é um ato de coragem e sabedoria...
BJus!
TH disse - C'est fantastique!
ResponderExcluirThat's all!
Hugs and kiss
I love you, so much!