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Trabalhamos embarcadas, offshore, dentro d’água, como queiram. As palavras para explicar essa maneira de ganhar a vida, ou ganhar o sagrado dinheiro para viver a vida, tem muitos nomes. Mas, o importante é o que se ganha na convivência. Neste mundo muito diferente, temos o privilégio da intimidade quando descobrimos a beleza no interior dos seres mais incríveis. Verdadeiros presentes em palavras pois é o que podemos aqui compartilhar. Pérolas que não vão adornar o corpo mas com certeza vão fazer crescer o valor da alma de cada uma de nós. Se nem tudo que se mostra é belo, não importa. Se percebermos o equilíbrio, vai ficar tudo bem!

21 maio, 2011

Sobre a Morte... Na Vida



Mais uma vez sento, fico olhando a folha em branco e tentando escrever; transformar meus sentimentos, minha vivência em símbolos escritos.
Já escrevi a moda antiga com papel de verdade, caneta, lápis e máquina de escrever. Já digitei e deletei tantas coisas que nem lembro mais. Agora simplesmente vou em frente e vamos ver o que vai dar.
Escrever não é simplesmente tentar coordenar os símbolos em palavras e torná-las coerentes numa frase, no texto. O problema maior é fazê-las ter coerência quando saem da nossa mente, do nosso coração – na maioria das vezes - em golfadas emocionais, onde está tudo misturado, milhões de idéias diferentes, raiva, angústia, ansiedade, felicidade.
Especialmente nesta última semana onde vida e morte confundiram-se num círculo monstruosamente perfeito. Primeiro o casamento tão esperado, depois, um parente é assassinado com cinco tiros em frente à sua casa por querer defender uma mulher - desconhecida - de ser espancada pelo companheiro. Como encontrar coerência? Mas isso é outra história...
Pronto, já estou eu com aquela vontade de apagar tudo novamente.
Onde eu estava??? Ah, sim, pensando na morte!
Cresci com uma curiosidade estranha em saber como era a morte. Acredite ou não, muitas vezes quis morrer só pra saber como seria, o que veria, o que aconteceria “do outro lado”, portanto, a morte tem um sentido diferente pra mim.
As vezes as pessoas me acham insana ou sem sentimentos por causa disso. Ou talvez porque não tenha “perdido” ninguém que realmente significasse algo pra mim. Só sei que já vi muitas pessoas morrerem. Já “perdi” tantas coisas, momentos, tempo, animais, oportunidades, amores, textos, ônibus, paixões, risadas, que se somar tudo, percebo que a morte acontece a todo instante, pois cada segundo que se dissipa, é morto... e vem um outro, novo. Só entendemos a morte se está ligada fisicamente a alguém, pois causa confusão, dor, estupefação. É como se estivéssemos dentro de uma grande ampulheta, tentando nos equilibrar na areia do tempo. E ela escoa, implacável, sem nos dar nenhuma opção.
Ridículo achar que silicone, lipo ou aquele creme mirabolante vai fazer o tempo parar. Afinal, o que importa na vida? Ser boa, ser ética, ser leal, íntegra, linda, maravilhosa? Boa amiga, boa mãe, boa filha. Por que tenho que ser boa? Se houvesse verdadeiro respeito pelas diferenças humanas, bastaria ser. E deveria ser suficiente - mas não é! Afinal respeito é só uma palavra - nada mais!
Em cada estágio do dia o ciclo sempre se completa. Morte-vida-morte-vida e continua infinitamente. Cada hora é um imperceptivel ciclo de morrer e viver. Continuamos a morrer de amor, de vergonha, de solidão. Morremos a cada instante por não sermos ouvidos, acarinhados; e voltamos a vida quando o telefone toca e ouvimos aquela voz tão esperada ou recebemos aquele e-mail - inacreditável!
No final não se perde nada, tudo se modifica numa sucessão de novos momentos.
O livro A Menina que Roubava Livros, me impressionou porque é a morte que conta a história. No início ela diz - "Eis um pequeno fato: você vai morrer. Isso preocupa você? Insisto - não tenha medo. Sou tudo, menos injusta."
Onde está a justiça na vida ou a injustiça na morte? Ou será ao contrário?
De qualquer forma já passei da idade de me preocupar com coisas que não posso resolver e muito menos com conjecturas.
Estou vivendo, simplesmente. Com tudo o que eu tenho, com tudo o que eu sou.
Morrendo a cada instante, vou escrevendo... E vivendo plenamente.

18 maio, 2011

O Balão Vermelho

 
Quando me lembro da minha infância uma imagem salta, muito viva, da minha mente – um balão vermelho!
Eu e meus irmãos, cansados de brincar no parque, deitamos na grama marcada por tantos pés de crianças e ficamos olhando o céu.
Vimos o balão vermelho, brilhante, subindo.
Imediatamente veio a vontade de ter um. Pedimos. Pedido negado!
Continuamos olhando o balão subir, subir... apertamos os olhos para não perde-lo de vista.
Se tivéssemos ganhado qualquer outro balão provavelmente teria tido o mesmo destino porque, se bem me lembro, todo fim de semana que íamos ao parque víamos um balão subindo, solitário, céu adentro, escapado das mãos de alguma criança.
Nunca deixamos escapar um balão. Nunca tivemos um.
Fico me perguntando, por que nunca ganhamos um? Que coisa doida! Talvez porque fatalmente acabaria explodido em contato com a grama ou perdido no ar sem destino.

Como os adultos podem magoar crianças com um simples pedido negado às vezes. Eles não percebem o que realmente tem valor no universo único de uma criança, principalmente quando esta crianças tem irmãos, ou colegas, ou amigos invisíveis.

Mas passou, como tudo. Lembranças não passam. Sentimentos não se esquecem. Vontades que não se realizam ficam na alma esperando respostas.
O melhor de tudo é que me lembro de um raro momento onde estávamos nós tres, unidos pelo balão vermelho que nos amarrava ao seu barbante pelo nosso olhar, pela vontade de resgatá-lo.
Hoje, mais de 40 anos depois, quando penso em meus irmãos, sinto falta de outro momento desses, onde estivemos tão juntos, por causa de um ponto vermelho no céu azul.
Gostaria que tivessem mais balões nas nossas vidas, azuis, amarelos, de todas as cores... Mas percebo agora que nós três, deitados na grama, rindo, tivemos a chance
de ter o balão. Ele foi nosso! Gravado na mente, no meu coração.

Abdução




Ainda que exista um perfeita explicação para tudo, os sentimentos continuarão sendo um mistério porque simplesmente é impossível definir o ser humano. Filósofos, pensadores, psicanalistas, espiritualistas... Será um em especial ou a mistura de todos que poderá nos explicar?
Em um instante de lucidez – porque vivo em meio à loucura – descubro que existe algo muito mais forte - e perigoso - do que a paixão.
Indefinível, pois acredito que ainda não foi inventada uma palavra – acho - para explicar o investimento de sentimentos em alguém, lá, no início.
Aquela fase que de entrega do coração, que abafa a razão e que faz você realizar loucuras – isto é paixão.
Estou falando do antes, do encantamento, da sedução, do passo-a-passo que leva a paixão. Da preliminar que nos leva a beira do abismo.
Seria descobrir, deliciar, deslumbrar, não sei.
Difícil explicar o que se sente quando sentimentos são tão etéreos.
Vai ver é isso! Uma abdução momentânea onde se acredita no outro sem reservas e absorve-se tudo que ele te dá e acredita-se – sem restrições – que tudo é verdadeiro.
Pois é nesta mesma fase onde se destrói com mais força um ser, no pré apaixonamento.
Onde existe uma fenda entre o físico e o espiritual e é ali onde se pode cravar a faca da mentira e fazer brotar a decepção.
Na fase de abdução fica-se vulnerável. Está na mão do outro a chave para sua alma. É preciso ter cuidado, pois é possível conquistar para sempre ou cair em desgraça.
Definitivamente não se pode culpar a paixão, pois ainda não nasceu. Ela está na fase da gestação. Ela nasce depois; é quando o espírito volta a ser um com seu corpo, que brota a paixão, lúcida, vulcanizada, quente, forte, toma conta do seu ser e lança você no inferno.
Quando o outro te abduz é como flutuar no infinito, sem ancoragem.
E quando não é feita a aterrissagem a marca da dor fica para sempre. Desconfiada, distante. A paixão é abortada e lança-se de volta para o âmago e fica lá.
Por isso cuidado. Observe atentamente quando aquele alguém aparecer muito certo, muito cheiroso, muito sorrisos; entendendo tudo de você, com a boca exata, com a mão no lugar certo, ouvindo tudo.
É abdução que está ocorrendo. Este alguém escuta apenas sua vontade interior de querer o que você não quer dar. Seduzindo seus sentidos, falando o que você quer ouvir.
Cuidado... Quando muito queremos algo, o cosmos conspira a nosso favor... mesmo que seja contra.

11 maio, 2011

Vingança


Queria saber me vingar. Ter nas mãos, mais que na mente, essa vontade enorme de fazer mal, de destruir, de escolher matar. Chocadas? Convenhamos! Quem não se sentiu traída, humilhada, impotente, ultrajada - e vocês podem escolher todos os adjetivos que combinem com seus humores e também suas dores - e sentiu brotar essa coisinha malígna que corrói feito ferrugem?
Não é bom saber que aquela criaturinha do além, geralmente o principe psicopata, acabou se estrepando todo?
A Justiça divina em nosso entendimento, lenta e incompreensível, tem Sua maneira de fazer acontecer o que é certo, sempre. Embora algumas vezes não aceitemos esse “certo”. Queremos sim, o errado, para nos sentirmos indenizadas.
Quando nós, seres normais, somos envolvidas no amor, simplesmente não nos conformamos quando este amor é desprezado e subjulgado. Presas no nosso poço de comiseração queremos vingança. Esquecemos que o amor foi o início e deveria ser o fim. Esquecemos de amar nós mesmas. Se o amor fosse realmente amor não sentiríamos vontade de matar. Mas somos humanas. Ainda não compreendemos as nuances do Ser e também não conseguimos, ainda, transcender.
As vezes eu admiro o psicopata, que isento de qualquer emoção, simplesmente nem agradece natureza por não ter dado ao seu cérebro aquele pedacinho que o faz ter remorso, e passa por cima da moral, focalizando somente seu ego.
Mas a admiração acaba quando percebo que ele é apenas uma anomalia que nos ajuda a prestar mais atenção no nosso próprio caminho. Cuidado com ele. Chega lindo, envolvente, cheio de promessas... Perfeito! E essa roupa que o cobre, que nós mesmas o vestimos, é que nos deixará nuas! Essa tendência de projetar nossos desejos nos outros nos torna presas fáceis para esse principe canibal. Porque ele nos come inteiras! Inteligência, alma, corpo, auto-estima. Nos deixa apenas com aquilo que não admitimos e para recuperarmos nossa vestimenta temos que despir o orgulho, lançar no lixo a vingança, lavar a humilhação e resgatar o amor.
Só senti vontade de matar uma vez na minha vida. Estava vazia de compreensão, nua de objetivos, perdida na dor, escurecida pela vingança. Quando fui resgatada pelas mãos da generosidade para os braços do amor, compreendi que tinha apenas valorizado meu poço.
Ainda não aprendi a me vingar, nem preciso.

Aprendi a agradecer por conseguir lidar com todos os meus elementos sem precisar me despir, sem precisar cobrir outros com minha própria capa.

Curiosos