Navegando...

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Trabalhamos embarcadas, offshore, dentro d’água, como queiram. As palavras para explicar essa maneira de ganhar a vida, ou ganhar o sagrado dinheiro para viver a vida, tem muitos nomes. Mas, o importante é o que se ganha na convivência. Neste mundo muito diferente, temos o privilégio da intimidade quando descobrimos a beleza no interior dos seres mais incríveis. Verdadeiros presentes em palavras pois é o que podemos aqui compartilhar. Pérolas que não vão adornar o corpo mas com certeza vão fazer crescer o valor da alma de cada uma de nós. Se nem tudo que se mostra é belo, não importa. Se percebermos o equilíbrio, vai ficar tudo bem!

06 dezembro, 2013

Diário de Viagem - JAPÃO - segunda e ultima parte



E lá vamos nós, outra vez, a segunda parte da viagem...



Dezesseis de outubro
 Sagamihara. Trocamos novamente de cidade e o mais engraçado é a quantidade de bagagem que carregamos. Eles enlouquecem. Também, quem manda nos dar presentes o tempo todo? A impressão que dá é que nunca lidaram com isso e acham muito estranho.
Hoje de manhã nos apresentaram a mais um bando de japoneses que eu nunca lembro o nome. E sempre com o ritual da troca de cartões... já tenho um saco cheio deles!
Finalmente, depois de uma volta no parque para ver o ginásio e sei lá mais o que, almoçamos – comida japonesa. 
Sênior High School com estruturas físicas mil, cheio de loucuras tecnológicas. A mensalidade é de mais ou menos 200 reais por mês. A limpeza é feita pelos alunos e não se pode mudar a mobilia de lugar. Muito aconchegante!
Tudo é muito silencioso e alguns dormem na aula. Também pudera! A energia é toda canalizada para a bunda. (que coisa feia para se dizer!)
Fiquei impressionada com o nível técnico das alunas de artes.Desenham com carvão qualquer coisa. Algumas trabalham por mais de dez horas, apagando com pão aquilo que não querem. Isso mesmo – pão!
O curso de música também impressiona pelo nível técnico das pianistas. Teve uma que deu um show. Todos os professores têm que ter nível superior e trabalham bastante. 
Quando não estão dando aula estão supervisionando ou fazendo parte de algum clube na escola. Ocupados o tempo todo. Só existe direção e vice-direção. Não vi nenhuma mulher dando aula, só homens. O professor me disse que uma vaga para lecionar é bastante concorrida e eles têm que mandar currículo e serem entrevistados (se tiver a vaga). Tivemos que tirar os sapatos para entrar na escola. O que impressiona também é a disciplina. Todos seguem o que o professor diz. Perguntei sobre namoro e matar aula. Ele disse que não acontece. Mas se acontecer? Fiquei sem resposta. Simplesmente sorriu e me olhou como se eu fosse de outro planeta. E sou: Planeta Brasil. Onde matar aula faz parte do currículo e namoro é conteúdo disciplinar...
Iamaguchi disse que raramente as portas de uma escola são abertas para estrangeiros.
Fizemos algumas anotações em uma folhinha para recordação e eles colocaram em um álbum. Quanta honra!

A biblioteca estava cheia de alunos e eles conversaram despreocupados. Estavam estudando para os provões. Aqui eles têm que tirar um sete como média para passar. A reprovação é inexistente. Provavelmente eles se matam se isso acontecer (o que geralmente acontece, como causa principal do suicídio entre os adolescentes japoneses), pois não passar de ano significa vergonha para a família.


Depois da escola fomos ao Aerospace and Science Research Institute. Eles fabricam satélites para verificar níveis de raios-X infravermelho, sol, lua, cometas, etc. Passamos pelos enormes hangares de testagem e fabricação. Visitamos a sala de controle de um dos satélites. Um deles estava a 292 dias no espaço. É bem interessante.
Após descer com todas as malas novamente nossos “pais” vieram nos pegar. Minha família é muito simpática. Tem o avô Kobayashi, que por sinal é Akira – a velha enxutíssima casada com ele a quem a menina se referiu como step grandmother, o casal e 4 filhos. Conheci o guri e uma das meninas que vai estudar para o teste amanhã.

O banheiro é uma caixa de surpresa. Imagine um local que deveria ser íntimo com portas de correr para todo lado. A impressão que dá é que uma delas vai abrir a qualquer momento. Tomei o banho mais rápido da minha vida, de olho nas portas, esperando que abrissem a qualquer instante. A casa é linda, no meio do mato, no meio da cidade. Achei que ia ficar em cima da garagem... vã esperança! Estou numa espécie de sala sagrada da casa. Tem altar, dizeres e quadros nas paredes e uma flor d’água incrível! Parece de mentira! Arranjo feito especialmente pra mim - Ikebana. Ela me disse que ela mesma fez.


A família é linda! Senti-me à vontade, conversamos, mostrei as fotos. Parecia que estava em casa com meus irmãos e meus pais. Eles são super simpáticos. O jantar estava divino. Depois tomamos café com bolo de queijo. Que delícia! Todos são ótimos. Os velhos não apareceram. Estou adorando tudo.


Dezessete de outubro
 Mais um dia se vai... ou vem?! Hoje foi difícil me manter acordada. Fomos ao Soyu-ji temple budista. E a Yamaguchi tentou – com seu inglês terrível, traduzir as coisas. O pior é que de vez em quando eles fazem questão de repetir coisas erradas achando que é certo. A língua japonesa tem palavras variadas do português e do inglês. Por exemplo, antigamente não existiam banheiros então ninguém inventou uma palavra para isso. Aí eu caí na besteira de perguntar como se dizia banheiro em japonês, para uma eventual emergência, e me disseram: TOIRÉ! Aí eu fiquei pensando e descobri que toiré é a versão ajaponeizada para TOILET, do inglês, banheiro. Ah! Que fantástico!

Fomos à prefeitura, ganhamos mais presentes e depois fomos ao “shopping”. Eles são meio loucos às vezes. Ficam discutindo horário em vez de resolver logo. Aí eu e a Carla saímos rápido se não não daria tempo para mais nada.
Me estressei pensando nos meus problemas com os meus alunos, na minha terrinha. Como eles pensam que sabem! E debocham e acham graça e sempre menosprezam tudo. As vezes penso em desistir desta profissão e fazer algo diferente, mas tenho que ter paciência.


Dezoito de outubro
Ebina Keyaki - Fomos ao shopping hiper caro e jantamos com um padre católico que fala francês, russo, japonês, português e inglês. Fomos super bem recebidas e passeamos de ônubus até Yokohama, a capital de Kanagawa. Fomos na torre mais alta do oriente com um elevador super rápido. Quando pensei em entrar já tinha que sair.

Conheci o Huck. Legal, cheio de mesuras....kkkk, se acha lindo e inteligente... putz! E ainda fala mal dos próprios japoneses... que feio! Só porque viajou e sabe um pouquinho mais. O grande lance da viagem é descobrir que o melhor lugar do mundo é a sua casa. Ele ainda não aprendeu isso!
Os japoneses são louquinhos... quem não é?


Dezenove de outubro
 Coca-cola – fiquei furiosa com a Yamaguchi dizendo que as fábricas do Japão têm o melhor controle de qualidade do mundo. Será?
Fábrida da Hitachi. Olhamos a linha de montagem e almoçamos a caixinha preta. To ficando enjoada disso. Mas, pelo menos não vamos passar fome.
Fiquei impressionada com o retro projetor um pouco maior que um toca-disco de carro. Eles abusam da technologia aqui. Sem contar com o celular que é um relógio acionado pela voz. Muito lindinho. Perguntei se tinha rosa...kkkk
 
Hospital de tratamento de pessoas com deficiência física e mental e acidentes ou cirurgias.
Vimos as instalações para cinesioterapia, eletroterapia, hidroterapia, o ginásio, o campo de atletismo para jogos paraolímpicos, a sala de confecções de aparelhos. O hospital é mantido pelo governo, atende internos e externos, os médicos e fisioterapeutas são mandados pela universidade de Kanagawa.

O karaokê foi fantástico. Abertura solene. Campai! (expressão usada para brindar! Saúde!) Ah, lembrando sempre que não podemos dizer tim-tim NUNCA! Afinal, essa palavrinha em japones significa as partes íntimas da mulher... kkkkk. E nós nem podemos brindar a isso! Quanto preconceito! Cantamos – 1 musica em japonês, 1 em japonês, tears in heaven (eu cantei), mais uma em japonês, Beatles (eu cantei novamente com a ajuda das meninas) e aí ACABOU! Eles nos disseram que tínhamos 12 minutos para escolher uma musica e cantar. Foi um stress. Não cantamos. Solenidade de encerramento com discurso do padre, do presidente, tss, tss... Palmas pra encerrar. 123,  123, 123, 12...
Fomos embora as 9h30 – EM PONTO!

McDonald’s
Cheeseburger com batata frita. O paraíso! As 10h nos expulsaram do lugar. Eles tocam a música “Adeus amor eu vou partir...” depois tocam um relógio e um monte de aviso pAra nós darmos o fora. Como não estava funcionando direito, e continuávamos a comer, eles simplesmente apagaram as luzes, e ficaram todos encostados no balcão nos olhando. Que cena cômica! Voltamos a pé para o hotel. Essa foi a nossa grande noite livre.

Vinte de outubro
 Ebina – ultima noite em Ebina. Hoje encontramos com a Myumi. Uma brasileira de Belém do Pará que mora aqui há dez anos. Veio com 23, já casou, montou um restaurante e agora está tentando ter um filho.
Os japas são extremamente extressados com horário. Hoje a reunião era às 10h e eles nos chamaram às 7h.
Incrível, é uma paranóia.

Só passeamos. Fomos a uma usina com museu e tudo. Miyagase Dam.
Filmamos como se faz a massa soba que é disperdiçadamente servida fria com aquele molho soyo horrível.
Depois visitamos uma escola onde o padre queria ensinar português – que piada! Bom dia!
Pobre bicho! É bem prestativo, mas parece que come coisa podre. Sai um cheiro horrível da boca dele. O português dele é terrível e ele faz que não entende o que falamos.
Visitamos uma fábrica de cerveja bem legalzinha.


Afsugi Beer Corporation – falado em japonês – Birú!
Depois fomos ao churrasco. A entrada – peixe cru.
Virou uma bagunça. Colocamos o sushi na grelha e assamos tudo. Eu peguei minha sardinha, usei os pauzinhos para abri-la, tirei todo o “conteúdo” e coloquei na grelha. Eles me olharam e perguntaram por que eu tinha feito aquilo. Simples! Vou ensinar para vocês, como se faz no Brasil! E não é que eles gostaram???

No meio da janta apareceu um especialista em Kataná. Deu uma aula. E o povo mal educado sequer ouviu o que ele disse.
Ele mostrou uma lâmina do século dez, curva, que veio da China. Cada uma tem uma função diferente. As curvas eram para golpes laterais quando se atacava à cavalo. As mais retas para combate frontal. Dependendo da família ou da origem as lâminas eram mais ou menos retas.
A lâmina que ele mostrou vale 5 milhões de dólares. Todas as Katanás pertencem a família dele. O orgulho era óbvio ao mostrar esses artefatos tão raros. Ele suava muito no palco. Dava aula pra mim. Eu aparentemente era a única que estava prestando atenção na sua narrativa.
Ele me convidou a subir ao palco e eu fui, toda desconfiada. Me deu a honra de pegar uma Kataná, a maior, de lâmina reta. Eu disse não e ele insistiu, fez questão.
Respirei fundo e peguei a espada. Leve, muito leve. Me preparei para algo mais pesado e fiquei muito surpresa com tamanha levesa num objeto tão mortal.
Ele me ensinou uma postura de ataque e o que fazer. Peguei o punho com as duas mãos e fiquei na posição. Eles se afastaram... por que será??? Foi uma sensação muito boa. Assistir filmes sobre isso é uma coisa. Ter nas mãos a arma branca mais mortal do mundo, outra!


Vinte e um de outubro
 Chegamos a Yokosuka no hotel da conferência – Yokosuka Prince Hotel
O padre enlouqueceu. Dava saltitos dizendo estar em território americano que ali só se falava em inglês. Que coisa mais troncha.
Encontramos vários conhecidos ao longo desses 20 dias que nos cumprimentaram com alegria. Ioki-san estava presente e também conhecemos Richard King o próximo Governador do Rotary 2001/2001. 
Saímos depois e fomos visitar Miura Peninsula onde tinha dois cata-ventos para gerar energia eólica. Tiramos fotos e ficamos impressionadas com nosso tradutor que disse que a mulher dele estava para ganhar neném, hoje! Vai para casa, criatura!
Depois fomos a um restaurante japonês muito lindo e ganhamos uma caneca.
Finalmente, encontrei a caneca. Minha cara de espanto-felicidade (depois de muito procurar) foi óbvia. 


Visitamos algumas lojas e fomos ver o Destroyer MIKASA e seu orgulhoso almirante reformado de 70 anos. Tivemos tapete vermelho na entrada com honrarias e tudo. 









Vinte e dois de outubro
 Hoje foi o grande dia da Conferência do Distrito 2780 de Kanagawa.
Estamos em Yokosuka Prince Hotel com 20 andares. Este hotel tem estrutura para agüentar um terremoto de 9.8 na escala Richter. Visitamos as fundações do edificio e fiquei impressionada com as imensas rodas de borracha que protegem as pilastras como se fossem um elástico para dar “flexibilidade” à estrutura e não deixa-la desabar.
Sexta feira nós sentimos um terremoto, o terceiro.
Tinha rotariano que não acabava mais.
Encontramos vários conhecidos por todo lugar. O teatro onde foi realizada a conferência foi construído pelos americanos depois da segunda guerra mundial. Eles destruíram nada mais justo que construir!
O padre saltitante estava presente para ouvir e ver a banda Naval americana tocar. Foi quarenta minutos de apresentação comparado aos cinco minutos que nós entramos e saímos do palco e o Kipper fez um discurso terrível. Ele atropelou as palavras e o pessoal ainda cumprimentou dizendo que foi ótimo.

O LENÇO
 Nós quatro, toda bobas, colocamos os lenços nas costas, sobre os ombros, e aparecemos na conferência, pensando que estávamos abafando, e, acima de tudo, homenageando os japoneses com o presente que ganhamos. TODOS nos olharam e nos acharam “lindas”. Vieram nos perguntar se no Brasil se usava este tipo de coisa “deste jeito”. Depois descobrimos que o lenço é usado para embrulhar comida. Que legal. Nós fomos as legítimas farofeiras. Também, como iríamos saber que um pano lindo daqueles, coloridos, cheio de estampas e enorme, era simplesmente uma toalha de prato comum para embrulhar marmita? Rimos muito. Foi um mico geral. Gafe coletiva. Ainda bem!

Vinte e três de outubro
 Continuamos em Yokosuka.
Hoje de manhã choveu. Mari não está muito legal. Tem dor de cabeça por causa da sinusite, está fungante e roncante. Tem alguma coisa no ar que está dando alergia nela. Vai ver é o ar do mar.
Estamos na reta final e começamos a sentir saudades, estamos sofrendo de uma espécie de síndrome de saudades down. Tem hora que bate uma tristeza...
Pela manhã fomos a coorporação de combustível nuclear do Japão. Ela produz combustível que abastece 51 usinas nucleares no Japão. Por que será que o Americano não vem aqui dizer que isto é contra a natureza??? Palhaçada!
O urano chega em forma de rocha, é moído e condensado em pequenas plastilhas cilíndricas ROD, que vão ser colocadas em cilindros de um metro que, juntos, formarão uma espécie de conjunto para alimentar o reator. São fabricados 10 conjuntos por dia com 200 pallets. Incrível.
O passeio pela fábrica foi rápido e mediram nossa radiação no final. Tudo ok. Ganhamos hashis.
Depois fomos ao centro de desenvolvimento e pesquisa NTT de Yokosuka.
É impressionante a qualidade de imagem e som em 3D que nos mostraram. Vimos a technologia nas telas com resolução de 6000 melhor que televisão. Imagem digital.
Depois vimos uma televisão que trabalha como um livro quando toca na tela. Uma televisão com imagem tridimensional.
Fomos também ao Instituto de Pesquisa DOCOMO NTT de Iokosuka. O sistema de amortecedores do prédio é feito com borrachas. Uma espécie de sanduíche com aço. Extremamente flexível para agüentar terremotos
Estão construindo um prédio novo. Este sistema absorve um terremoto reduzindo seu impacto em um quarto.
Visitamos as salas de som com absorção de radio, etc,
Vimos um filme com som poderoso numa sala especial.
Jantamos no navio restaurante japonês e cantamos karaokê. Mari recebeu declaração pelos Beatles e ganhou carona de guarda-chuva. Só ela ganhou carona. Tava dodói.
A Ihoko (coitadinha) tava indo bem bela de carona no guarda-chuva quando de repente Fukuribo puxou o guarda chuva deixando-a na chuva para vir correndo na minha direção... sinistro!


Vinte e quatro de outubro
 Última noite em Yokosuka. 
Hoje fomos a ultima prefeitura fazer visita ao prefeito. Ganhamos um chaveiro lindo.
Depois ganhamos flâmulas e mais um livro escrito em kanji com assinaturas e mensagens das pessoas que conhecemos na reunião do Rotary de Yokosuka North.
Fizemos uma visita a companhia Nissan de Motores. Na fábrica de Oppama eles fabricam carros. Visitamos a linha de montagem. Não nos deixaram tirar fotos. Nos levaram para fazer um test drive na pista especial. Aproveitamos para gritar bastante... até parece que o piloto estava correndo muito. Fingimos que ele estava e ele ficou todo felizinho... como é fácil agradar os homens!
Depois tivemos um tempo livre.
Aqui eles fumam muito e o tempo todo. Parecem chaminés, não é a toa que estão sempre estressados correndo atrás do relógio.
Mari está cansada. Sempre com sono.
Só kipper parece bem. Continua no mesmo esquema.
Não vejo a hora de chegar em casa



Vinte e cinco de outubro
 Kamakura – quarta-feira. Fizemos nossos relatórios para entregar para Hinoku. Fomos agradecidos e educados mas escrevemos o que achamos. Cigarro, tempo (nervoso), e mais algumas coisas.
Fomos recebidos pelo grupo e mais light do distrito. Passeamos e visitamos um museu onde se preserva uma arte extremamente antiga de entalhe em madeira com mais de vinte etapas de acabamento na peça para se obter o laqueado vermelho denso. Lindíssimo.
Tem peças de 700 anos como uma mesa e potes de guardar peças de xadrez de cento e vinte anos.
O artesão, um senhor de 70 anos mais ou menos, curvado, magro, flexível, concentradíssimo no que estava fazendo, com os dedos enegrecidos e avermelhados pelo produto, pó e atividade de tanto tempo. Parecia feliz com nossa visita. Foi super simpático. Uma figura inesquecível. Gostei dele imediatamente.

O idiota do Takanaka me disse umas bobagens sobre não poder ir a Tokyo dar uma olhada nos computadores. Isso porque Kipper, Carla e Mari pegaram o trem e foram compar os PCs. Rotarianos são muito ocupados, ele disse. É impossível porque o programa não pode ser mudado. É impossível, eu sei, to te dizendo para esquecer, por favor.
Foi estranho – eu encarei o japona e ele me encarou. Não gostou nem um pouco do contato visual direto, desafiador e questionador, de minha parte, claro. O cara ficou nervoso, fumava um cigarro atrás do outro. Veio com um papo estranho pro meu lado dizendo que tinha uma programação pra me levar numa escola. Eu disse, tudo bem, estou aqui, vamos lá. Yhoko também está no hotel. Afinal, segundo o coordenador da área, eles combinaram contigo, e foram a Tokyo. Se você está se sentindo preterido, problema seu.
Ele não gostou nadinha deu ter discutido isso com ele. Por ser mulher e por simplesmente debater. Disse a ele que nós brasileiros não conhecemos duas palavras – IMPOSSÍVEL e PROIBIDO. Isso não existe no nosso dicionário.
Ele me olhou, crédulo, e acendeu mais um cigarro. Me retirei. Estava cansada e poderia partir para a violência, sem sequer saber que tipo de especialista em luta marcial ele era! Mesmo porque, depois de segurar uma Katana com minhas mãos, eu estava pronta para tudo!

Depois na janta, todos estávamos juntos, e ele quis me levar para visitar a escola de inglês dele. O jantar demorou tanto que não deu tempo. Tanta frescura para comer carne crua. Aliás, me perdoem. O bicho cru ali no prato merece respeito.

Fizemos nossos relatórios e conversamos até tarde – detalhe, a íngua nos pediu para fazer um discurso em japonês! Há há !
Na hora da festa da despedida ficou com a cara no chão. Nem sequer se despediu de mim. Bem que eu podia ter falado umas bobagens maiores pra ele.

Vinte e seis de outubro
 Quinta-feira. Último dia de atividades. De manhã fomos visitar uns templos de três portas. Os portais eram em homenagem ao homem que cuidava do templo.
Fomos ver o grande Buda com mais de mil anos de idade.
Tiramos fotos e voltamos para almoçar num restaurante italiano. Que piada!
Prato de entrada – salada de peixe cru. Prato principal – pato assado com umas frescurinhas.
Ainda bem que o pão é sempre delicioso!
Depois eu fui visitar uma elementary school com o Dantcho e as meninas voltaram a pé para o hotel. A escola é uma loucura. Tem trezentos e onze alunos incluindo uma ala para alunos especiais. Cadeira de rodas, devicientes mentais, auditivos e mudos.
Tem de tudo lá dentro e o espaço convida a estudar.
Voltamos a nos preparamos para o Farewell party. Ninguém das minhas host family estavam lá. Vai ver não gostaram muito de mim.
Fizemos nossos discursos e a idiota aqui chorou.
Ganhamos mais presentes, inclusive uma máquina fotográfica (acredito que eles pensaram, observando minha Agfa... coitadinhas, nem tem uma máquina decente!).
 A noite foi ótima. Cada uma de nós numa mesa. Carla comeu ovo podre preparado numa caixa de madeira e dormido por 20 dias. Acho que tentaram tirar o pinto mas não deu certo.



Vinte e sete de outubro
 Ultimo almoço no hotel
Achamos que a entrada tinha uma carninha mas veio crua. Parece praga! Nem água quente!
O almoço – pasta a carbonara – foi uma piada. Carbonara com camarão, com cabeça e tudo. Um camarão minúsculo com umas barbas de quase dez centímetros e olhinhos pretos.
É impressionante como deturpam tudo por aqui.
O almoço italiano de ontem não teve nada de italiano. Massa? Não vimos nem na fotografia.

Dia da partida!!!
Soki-san e Okada-san vieram conosco até Narita de ônibus. A mala do dantcho pesou 45kg e a da Ihoko abriu.
Fizemos umas comprinhas para nos livrarmos do iens e passamos pela imigração.

Antes de sair do hotel fui passear na praia. O pacifico é diferente. Cor diferente, gosto diferente! A areia da praia é escura, devido ao solo vulcanico. Bom lugar para pensar. O clima estava bom, com cara de chuva. Toda praia é boa. Vai ver viemos do sal, da água, da essência do mar.

Fiquei observando um bando de crianças de uma escola primária ajudar os pescadores a puxar a rede com peixes. Criança é igual em qualquer lugar. São únicas, autenticas, felizes.

Infelizmente em algum momento na nossa vida nos preocupamos tanto com o "ter" que esquecemos o "ser". 
Aí culpamos nossa infelicidade no outro, no trabalho, no tempo.

"Felicidade existe, mora em qualquer lugar, basta apenas o amor encontrar"

Diario de Viagem - JAPÃO - Primeira Parte


De 02 à 28 de outubro de 2000 eu e mais quatro brasileiras tivemos a oportunidade de visitar o Distrito de Canagava e conhecer dez cidades. Narita (Chegada - Aeroporto em Tokyo), Fijisawa, Hiratsuka, Isehara (Tokyo), Odawara, Yugawara, Sagamihara, Ebina, Yokosuka, Kamakura, Narita (de volta pra casa). Aqui um pouquinho das minhas impressões.
  
Dois de outubro
Saindo do aeroporto Salgado Filho às 5h30 em Porto Alegre. O pessoal foi chegando, Kipper, Carla, Mari, Ihoko e eu. Abraços e beijos, e meu pai implica com meu cabelo – ele parece mais nervoso que eu!

Chegamos em Los Angeles. Estamos contra o tempo, engraçado isso. Quem disse que não podemos viajar no tempo? Esperando, num lugar bonito e cheio de gente feia. Todos vão para todos os lugares. Temos que esperar por mais ou menos uma hora. Estou com sede e não tem café por aqui. Como se pode viver sem café? O pessoal queria beber chimarrão, mas a cuia ficou em uma das malas. Acredito que isso também não seria possível, afinal, tudo pode virar ataque terrorista neste país. Imagine, uma cuia de chimarrão, bomba e erva! Um verdadeiro molotof!!!


Três de outubro
Chegada em Narita. A passagem na imigração foi rápida. Carimbaram e olharam os passaportes. Não revistaram nossas malas. Elas devem ser verificadas antes por um raio-X poderoso, com certeza. Quem em sã consciência iria deixar estrangeiros entrarem no país sem verificar possíveis terroristas? Esse pensamento também é terrorista.
Assim que colocamos os pés no aeroporto o cheio de molho shoio inunda as narinas. Incrível! As malas da Carla e a minha não apareciam nunca. A recepção pelos rotarianos foi engraçada. Todos distribuindo cartões pessoais.

Fui apresentada a nossa intérprete, Mariko Yamaguchi. Eu olhei para ela com os olhos arregalados e, se ela percebeu alguma coisa não falou nada. Na janta, mais tarde, contei para todos sobre o meu gato preto angorá que se chama Yamaguchi. Mostrei a foto dele e foi um Óh! Geral! Se foi positivo ou negativo, melhor deixar pra lá!

Quatro de outubro
No primeiro hotel o quarto é bem simples mas tem de tudo. Frigobar, televisão, rádio, despertador, telefone, abajur e um colchão maravilhoso, uns quadros esquisitos na parede. Arte, ou o que seja! Também, depois de uma viagem contra o tempo de 32 horas, qualquer colchão é maravilhoso. A banheira é enorme com chuveirinho. Eu, muito esperta, prendi o chuveiro na parede e virou chuveiro de verdade. Eu e Mari fofocamos até às 1h40 da manhã, mas que na verdade é 1h40 da tarde no Brazil. Já estou com saudade de casa. Tudo aqui é diferente, mas é tão igual.
No primeiro jantar com os japoneses, Yoko e Carla pediram curry; Mari e eu pedimos sanduiche de carne (veio crua). O prato da Carla estava muito apimentado. Foi difícil. Eles  gostaram quando experimentamos o saquê de arroz. Aqui o gosto é diferente. Parece vinho. 

Cinco de outubro
Passeamos de manhã e tiramos fotos. O café foi fantástico. Ovos pochê com galinha e salsichas feitas de maneira que ninguém acredita. Eu escrevi o hino do Brasil e nós treinamos. As gurias fizeram chimarrão enquanto organizávamos o dia.
Eles ficaram impressionados com o tamanho das nossas malas. O pior é que elas estão pesadas de tanto papel. A Mari tá com uma alergia de alguma coisa que ela comeu, claro! Eu to bem até agora. Quando fizeram nossa festa de boas vindas eles nos desejaram “boa saúde” até o final da nossa estada. Será por quê? Deve ser porque eles nos entopem de comida o tempo todo! É doce, salgado, café, água, o tempo todo. Eles são ótimos. Alguns meio tarados. Também, 4 mulheres em um grupo completamente diferente, chama a atenção até dos santos!
Eu tento falar esta língua malvada, mas é complicada. A minha primeira anfitriã é maravilhosa. Ela tenta falar inglês, mas sai meio quebrado. Quando eu repito o que ela diz ela fica impressionada e diz que tenho ótima pronúncia. Quando perguntei sobre sua religião e ela disse Seicho-no-iê e eu disse que conhecia, ela ficou emocionada. As pessoas se emocionam com tudo por aqui. Eles dizem Ides-né! Ides-ka! Seria algo tipo “É mesmo?” “Caramba!” Falamos sobre o Cristo Redentor e eu expliquei o que significava. É uma viagem fantástica.
Eu tenho a impressão que as coisas aqui são bem novas, como se estivessem me esperando. Ou talvez seja assim mesmo que eles vivam. Hoje na reunião de preparação eles nos colocaram as regras sobre “gastos” – eles têm dinheiro mas é tudo muito caro. A minha anfitriã me deixou usar a internet para mandar um e-mail e me disse que no mês passado ela gastou 10 horas e pagou trinta e cinco dólares.
Eles tem um cachorro. Faruko. Me adorou! O dono dele tá com ciume. 

CERIMÔNIA DO CHÁ
O treco tem cheiro de capim de vaca ruminado misturado com aquele cheiro de curral e a mulher disse que pagou muito caro por ele. Vai ver quanto mais cheiro de xixi de vaca, mais caro. O chá é feito um de cada vez nas cumbucas. Levado por outra pessoa, você recebe, faz a reverência, pega com uma mão dá duas voltas na cumbuca depois de colocar sobre a cabeça – pode beber!

Conhecemos uma figura interessante hoje, uma koreana que é uma vergonha. A maquiagem que ela usa me lembra os artista que dançam no Kabuki. Horrendo!

Eles estão nos comparando com os americanos que os visitaram no mês passado. Perguntam-nos o tempo todo se estamos cansadas. Eles disseram que os americanos quase morreram com tantos compromissos. Estão impressionados com nosso pique!

Seis de outubro
Visitamos um parque hoje e tiramos fotos. Batemos sinos para casar, para saúde. Subimos numa torre e caminhamos entre lindos jardins. É uma ilha, esqueci o nome. Não sou muito boa com nomes. Aprendi que háchi é pauzinho e hachí é ponte.
Visitamos o prefeito e ganhamos bonecas e alguns papéis. Fomos levadas a sala de reunião dos vereadores e eles nos explicaram como funciona o trabalho aqui. Os vereadores são pagos para trabalhar e trabalham de verdade. Ganham 6 mil dólares e tem que largar o emprego para fazer só isso. Eles discursam mas o texto é pré escrito e eles não podem sair fora da linha. Imaginem esse tipo de política no Brasil!

Entrevista com professor de Educação Física - Ele trabalha numa escola primária e dá aula de ginástica, natação, baseball, basquete e vôlei. Ele trabalha mais ou menos 40 horas e ganha 4mil e 500 dólares por mês. Ridículo se comparado ao meu salário. Eles deram risada quando contei quanto eu ganhava (900 reais por mês, 40 horas por semana). Humilhante! As aulas vão das 8h30 às 5 da tarde. A escola é linda, organizada, limpa e ninguém pode entrar de sapato lá dentro. Melhor não comentar sobre o Brasil! "Amigos da escola"!

Depois foi a entrevista da Carla com um agricultor. O que mais me chamou atenção é que eles não vão para faculdade. Eles se especializam através de cursos de plantação, agronomia ou agricultura.

No final do dia, Harada-san me trouxe até a casa da “Tchuco” e me deu uns hachis lindos! Ele é fabricante de hachi. O inglês dele é sofrível, mas nós nos entendemos muito bem. Ele é super simpático. Tem uma energia muito boa. É cuidadoso e atencioso comigo. Eu disse que os japoneses são muito inteligentes porque conseguem ler dois alfabetos e ele me mostrou 3 alfabetos em japonês. Antes ele me levou ao ginásio municipal para ver a biblioteca, sala de ginástica com tudo possível.
Um mestre de Kyudô fez uma apresentação exclusiva para mim. Fiquei impressionada!
Ele entra na sala, cumprimenta o alvo, nos cumprimenta. Caminha até o meio, se ajoelha com o arco e duas flechas. O arco é enorme, dá 2 dele. Ele levanta, gira para o lado esquerdo voltado para o alvo, se ajoelha, coloca o arco na frente com a aste virada para a mão direita. Pega o fio e gira o arco. Coloca a flecha. Primeiro e ajeita a ponta, segura nos dedos. Depois ajeita a parte de trás da flecha. Coloca a outra flecha virada ao contrário. Levanta. Segura o arco com os braços semi estendidos, deixa a 2ª flecha na mão, estica a haste e depois o fio. Ele segura a flecha bem longe do corpo e tenta mirar o alvo. Depois de lançar a 1ª ele repete o ritual com a 2ª. Ele atirou 4 vezes e não acertou. Ficou furioso. Eu não tive tempo de agradecer. Quando as coisas não saem com o planejado, eles são bem mal educados. 

Eu ando tensa a maior parte do tempo. Existe uma espécie de formalidade no ar o tempo todo. Ficamos com medo de fazer algo errado e... somos observadas e fotografadas. Temos que ter cuidado com as poses inusitadas!

Fomos a um restaurante italiano. Eu crente que ia comer macarrão e o diabo veio com peixe. O pior é que eu achei que ia comer carne com massa e o tal do intérprete convidado me pede quase meia galinha que eu tive que comer com pele e tudo. A gente passa por cada uma! Se os italianos soubessem o que o japonês está fazendo com a maior invenção do mundo, depois da roda, eles anunciariam a próxima guerra mundial!

Koyo-san tomou uma garrafa de vinho e começou a me olhar de jeito estranho. Me levou pro karaokê e me fez cantar garota de Ipanema e My Way. Eu tentei me esquivar e deu certo. O outro também tentou dar uma chegadinha. Mas acredito que minha cara de poucos amigos freou as investidas. Hoje eu tive medo de dormir sozinha. Tomara que as meninas estejam bem. Amanhã tem café da manhã especial. Adivinha? Comida japonesa!









Sete de outubro
Ai! Que desastre! Jantar num restaurante japonês. Apresentaram-me o sushi. A mesa muito linda, com os pratos dispostos em uma ordem única. Em três fileiras, primeiro vem, da esquerda para a direita, peixe frito (tempura) ovo batido (uchi) macarrão (udom). Na segunda fileira, no centro, o molho depois o peixe cozido (sunomonô) e mais um molho (suma). Na terceira fileira o peixe cru (tirachidish sushi), mais molho, e mais tempero (iacumi). Come-se com hachi. São mais ou menos 20 tipos de suchi. Missochiru é a sopa – maravilhosa! Mói o grão e deixa dormir para fazer a sopa. Não podemos esquecer que suchis são caros. Os mais baratos depende do peixe. A maioria das receitas é elhor nem perguntar como se faz! Fizeram-me comer tudo. Afinal, temos que experimentar. Nunca se sabe quando vou voltar ao Japão novamente.

Hoje fomos passear de helicóptero e almoçamos na base aérea uma batata assada com um filé maravilhoso. Depois fomos à universidade de veterinária, agronomia e biociências. Vimos vacas e tecnologia. O cheiro é terrível. Elas ficam confinadas, afinal, 2/3 do Japão é feito de vulcão e não há espaço para pasto. Essa gente é incrivelmente criativa!

Visitamos Tokyo e ganhamos muitos presentes. Tiraram fotos nossas o tempo todo. É impressionante. Fomos a um grande templo e acendemos incensos, colocamos numa grande fumageira e passamos a fumaça na cabeça para dar mais inteligência - (como se isso fosse possível, mas, acreditar não faz mal!). Precisamos mesmo aprender japonês. Principalmente para ler esse monte de traços e anexar sons a eles. Acho que essa quantidade exagerada de peixe que estou comento está me dando alergia.

O almoço foi sinistro. Nos levaram a um restaurante de 200 anos. Comemos enguia ensopada e um peixinho cozido numa panela de ferro com ovo. Adivinhem... o preparado é feito 3 dias antes e as enguias e os peixinhos são jogados dentro com tudo o que tem direito... isso mesmo! Come-se com um pauzinho!
 Nove de outubro
Dia cansativo. Choveu a manhã toda e a Tchuco quase deu um treco de nervosismo quando nós nos perdemos e ficamos esperando no hotel. Ela estava tremendo. Eles são extremamente pontuais até quase beirando a loucura. Fomos a uma academia de ginástica bem modesta! 3 quadras de tênis e lugar para treinar golf com 2 piscinas internas com 25m. Uma com 3 raias e outra com 6. Sala para massagem e acupuntura. Sala de espera para relaxar. Tudo muito básico.

Visita a casa do Yoshida House - Esta casa só é aberta pra visitantes ilustres (me arrepiou toda! Kkk). Jardins exuberantes e um templo com a foto dos sete duques – embaixador na Inglaterra após a era Shogun. Voltou para o Japão e foi o primeiro ministro da era Meiji. Tudo muito lindo, muito denso, muita energia fantasmagórica no ar.
Depois quando Ihoko, Mari e Carla foram para o banho de Ofurô, eu fui para o boliche com o Dantcho, que eles chamam de “bolingo” – ganhamos! Eles não gostaram muito! Disseram q eu ganhei porque meu braço era forte! Fala sério!

Jantar – Tonkatsu (recheados com camarão, frango e repolho). Minha primeira gafe cultural. Eu estava explicando uma determinada coisa e peguei os hashis e “espetei” no meu potinho de arroz. Eles se jogaram para trás e disseram em coro “OOOHHHH”. Imediatamente eu retirei os hashis do arroz e perguntei: O que eu fiz de errado? Simples! Esse movimento é para saudar os parentes falecidos em seus túmulos, nos cemitérios. Que maravilha! Um jantar tão aconchegante, caro e fino e eu saudando os mortos! Que meu anjo da guarda me ajude!
  
Shopping Hykown – 100 ien (R$1,99) Aqui aconteceu o primeiro terremoto. Fantástico! Enquanto olhávamos a quantidade enorme de coisinhas inúteis que sempre queremos ter, os enfeites nas prateleiras começaram a tremer. A sensação é como se o tremor invadisse seu corpo. Vem das solas dos pés até a ponta dos cabelos. As pessoas passavam e não davam a mínima. Já acostumadas, com certeza. Enquanto isso nós nos olhamos e pensamos: O que está acontecendo? Incrível! Durou uns 2 minutos e foi inesquecível.

Dez de outubro
Visitamos a prefeitura de Oiso. Ganhamos um Kimono vermelho e um lenço de seda japonês. Nossa intérprete Missato nos ensinou alguns palavrões – Baka – merda. Ela é muito engraçada quando fica constrangida.Visitamos o prefeito de Hiratsuka. Ganhamos um kimono verde em comemoração ao Matsuri (festival da cidade). Ganhamos postais e um senhor de 65 anos nos falou sobre as máscaras do Kabuki que ele confecciona. Cada máscara leva em média um mês para ficar pronta. Ela é feita de pinho ou de outra madeira japonesa entalhada com todos os detalhes e pintada à mão.Cada máscara é estudada de acordo com a personagem da história que vai ser contada. Ele trabalha com o Mestre Kabuki que chama-se NOH. Ele me mostrou alguns símbolos – EVIL (mulher velha) representa os sentimentos internos como inveja, ciúme, avareza (por que será que esses sentimentos são representados por uma mulher velha?). Jovem príncipe – realeza e fineza; Jovem mulher – anjo e bondade. Cada movimento da máscara na representação mostra um rosto diferente mudando a expressão.
No almoço – comida maravilhosa – ganhamos flâmulas do Hiratsuka North e faixas para amarrar na cabeça, que são usadas pelos tocadores dos grandes tambores dos Festivais japoneses, o Taiko.

Dantcho e Ihoko san foram à fábrica de cerâmica Toto. Viram principalmente os vasos sanitários tecnológicos cheios de botões multi-uso. São impressionante. Parece um trono espacial. Dá até medo!
Eu e Iamaguchi conversamos sobre a poesia japonesa. Lembrei do Hai Kai chinês e ela me disse que em japonês é Hai Ku.
Visitamos também umas vacas confinadas numa sujeira danada. Nem vou falar do cheiro no ar! As gurias tomaram leite que nos foi oferecido com muito carinho e uma higiene danada de suspeita. Como não tomo leite, recusei educadamente. Provei um sanduichinho e uns biscoitos. Obrigada, senhor, pela minha saúde perfeita! Eles fizeram uma cara estranha. Melhor nem perguntar o gosto!

A apresentação de Koto foi bárbara. Koto é uma espécie de harpa deitada com muitas cordas. O instrumento tem quase 2m de comprimento e geralmente são mulheres que tocam. O som é divino. Uma das melhores tocadoras de koto tocou para nós quatro músicas. Misussuda.A primeira ela tocou com 13 cordas. A segunda com 13 cordas e flauta transversal com a aluna Sawada. A terceira com o Koto de 13 cordas e 17 cordas e o final com dois Kotos de 13 cordas “La Cumparsita”. O samba ficou pra outro dia!


Onze de outubro
Quando ficamos em hoteis, fazemos um revezamento de companheira. É interessante esse convívio com as pessoas. Sabemos da vida, da morte, das coisas que nos rodeiam. O que será que vem do outro lado para cá? O que será que vai daqui para lá?
Mari não está muito bem. Fiz uma limpeza de chakra nela e conversamos um pouco sobre o cosmos. Gosto de acreditar que somos instrumentos de paz, bondade, amor e confraternização. Sentimentos como raiva, angústia, impaciência, inveja, ciúme nos invadem durando o dia mas a grande deixa é saber transformar tudo isso em algo bom. Tento ser um bom ser humano. Ter paciência, principalmente isso!
A conversa de volta com Aioki-san foi proveitosa. Ele é um senhor de 80 anos e nos afinamos logo no início. Falamos sobre perdas, família, escolas, a vida dele, casamento. Morte. Ele me contou que não quer mais cães porque o que ele tinha morreu, depois de 10 anos de convivio com a familia. Ele sofreu muito, juntamente com os filhos. Eu disse para ele que a morte faz parte da vida. É a única coisa que é certa. Ele se imaginaria sem os filhos? Ele disse que não. Mesmo assim, ele sabe que podemos morrer a qualquer hora, e apesar disso ele arriscou ter 4. Sendo assim, por que resolveu te-los? Ele olhou para mim e sorriu um sorriso japonês, meio enviezado, com aqueles dentes amarelados e desnivelados. E me disse: "Irein, você é muito jovem para falar assim!"

O dia hoje foi fantástico. Detalhe: meu nome em japonês tem um som de IREIN. Eles não conseguem pronunciar a letra L.

CAIXA PRETA

Caixinha surpresa, como apelidamos, é uma espécie de marmita - BENTÔ - Elas vêm prontas para abrir e comer. São de madeira, finíssima, pintadas de preto com desenhos e letras kanji. Abre-se e tem sempre alguma crua cheirando a shoyo. Essa tinha peixe cru, peixe frito, peixe cozido, a sopa (como sempre) arroz, café e chá. Acaba-se de comer, fecha a caixa. E reza para a próxima ser um pouquinho melhor!



TOFU
O jantar de TOFU (queijo de soja) quase nos matou. Uma verdadeira orgia dos mais variados pratos com Tofu.
A bandeja redonda continha – sopa, arroz com 6 tipos de coisas diferentes que segundo a cozinheira levou 3 dias pra fazer (ele precisa ser fermentado! Melhor nem dizer o gosto que tem!), chá e saquê. Eles colocam uma espécie de panela de barro que vai carvão dentro. O carvão esquenta e prepara o tofu cozido com siri e verduras. Também tem tofu assado com carne crua, molho, peixe cru e pinha.
Mais tofu com peixe cru, uma espécie de polenta frita, pimentão, picles, etc.
Mais pratos foram servidos e potes colocados à nossa frente. É impossível comer pouco. O gosto é forte e como não estamos acostumados, quase enlouquecemos com tanta comida.
Eles disseram que isto era porque estavam nos mostrando como é a comida típica do Japão. É uma arte.
Cada pote, cada movimento “sumimassem” que vai sendo colocado à sua frente, representa uma cultura inenarrável. Os potes ganharam um concurso de artesanato como o primeiro do mundo. Até no final da janta, com tudo espalhado e remexido a mesa é linda.
Eles vão servindo saquê, cerveja, água, uns para os outros e comendo. Tomara que eu nunca esqueça isso.
Interessante – na cultura japonesa é a outra pessoa que serve seu copo.

O templo Xintoísta que visitamos foi algo sem medidas de valor. Para quem acredita, foi um presente. Foi feita uma oração especial e nossos nomes encaminhados ao Deus Oyama que é pai da segunda filha (Monte) Fuji. O sacerdote do templo entoou, como um canto gregoriano, nossos nomes e a reza. Antes, sentamos e ouvimos ele tocar o Taiko (grande tambor japonês) 1, 2, 3, devagar – 1, 2, 3, depressa. Várias batias e acalmando.
Uma espécie de espanador brando foi agitado na nossa frente nos abençoando. Ele se virou de costas, vestido a rigor, chacoalhou os inúmeros sinos e rezou. Depois ele se sentou, com o olhos fechados enquanto nós colocávamos uma madeira com papel branco no altar à nossa frente. Na saída, um imenso Taiko e uma imensa Kataná nas salas que se seguiam. Quando fomos visitar a caverna do dragão que carrega o Deus, acendi uma vela para a saúde de todos meus amigos, de todos meus familiares. Bebemos saquê e ganhamos um presente do deus. Ihoko acendeu uma vela também. Espero sinceramente que a sorte a acompanhe, e a felicidade também.

KOMA
Os piões, que são feitos aqui artezanalmente, fazem parte da arte japonesa. Dantcho e Carla puderam pintar o pião após o artífice passar o formão e arrumar a parte de cima. Cada um de nós ganhou um pião. Eles são grandes e tem uma corda grossa para serem lançados. 












Doze de outubro
Na visita à Prefeitura de hadano fomos convidadas a participar da apresentação de Taiko, juntamente com os mestres. Eles começaram a bater nos tambores e nós imitávamos o som. Ele até tentou uma batida de samba e fomos atrás, sem errar. Depois de castigarmos os tambores a vibração ficou nos braços e no peito. A repercurssão é bombástica. O som penetra não só pelos seus ouvidos mas pelos seus poros. O coração bate no ritmo do som e parece que vai sair pelo peito a fora.
Jantar chinês, para variar, ótimo! Uma comida bem light com o sirizão daqui – kani . Ele é gostoso mas a maneira de temperar deles muitas vezes estraga tudo. No jantar eles fizeram questão de indagar sobre a Amazônia como se eles tivesse direito sobre ela.
O parque – Togawa Park Center – é muito lindo. Mais uma cerimônia do chá, mais light desta vez.  Agora já não nos deixamos enganar pelos doces pretos. Eles são feitos de feijão e não de chocolate. Ai!!!!
O almoço estava terrível. Mari não estava se sentindo bem e nós não conseguimos comer direito.
Fechamos a caixinha preta e bebemos o chá horrível.
Roubei uma sementinha do tico-teco pra Carla.
A Mari foi ao hospital e nós fomos a fabrica da Toshiba ver a linha de montagem. Temos a impressão que eles pensam que o Brasil é só mato. Eles pensam que nós vamos roubar alguma coisa. Colocam um japonês na frente e outro atrás para nos cuidar. Não podemos fazer nada sem sermos controlados.

Frase do dia antes do banheiro – por favor venham o mais rápido possível! Até o xixi tem tempo certo!!!!
Todo o dia é a mesma coisa, eles sempre estão correndo atrás do horário e nós sempre adiantados. Eles é que se atrasam. Aoki-san chegou a dizer 5 vezes que era para nós estarmos prontos as 9h da manhã. Chegamos ao saguão do hotel exatamente cinco para as 9 para sairmos as 9h30. Chegou a ser engraçado. Ficamos todos sentados, olhando um para o outro. Aí, quando deu 9h30 eles levantaram e todos saímos. Pra que tanto? Que neurose! É uma angústia tão grande que eles têm relógio até no vaso sanitário. Sério!


Na cerimônia do chá em Otemoto nos foi presenteado hachis por um senhor idoso (todos são idosos aqui). Explicaram que Tchaco é a panela de aquecer água para o chá. Todas nós fizemos um chá hoje. Será que estão nos treinando para ficar aqui? Ai ai!!

Treze de outubro
 Só passaram 10 dias e parece uma eternidade. Hoje eu me senti bem cansada. Pode ter sido a cerveja com saquê de ontem à noite. Como eles bebem! Ou de repente sabem que os brasileiros bebem cerveja e resolveram aderir.
Conhecemos as montanhas de Odawara. A temperatura abaixou e está mais agradável. Fomos a um exposição de arte japonesa Yukarino Fine of Arts. Em Yugawara almoçamos com um outro grupo de rotarianos. A comida estava ótima.
Bolinhos fritos e um chá marrom melhor que o diabo verde.

Depois fomos até Kanagawa Aerospace Museum. Ganhamos um pin super caro e um livrão que vou dar para a Julia. O museu é lindo. Tem quilhões de bichos de todo o mundo. E pelo jeito eles adoram borboletas. É impressionante a quantidade de borboletas que eles têm da mesma espécie. “É uma questão de display” – disse-me um deles quando perguntei por que um painel tão grande 4m x 3m simplesmente lotado de borboletas azuis, vindas da Amazônia. 
Ele riu. Eu fiquei furiosa. Ele percebeu. Reinou um clima constrangedor ao redor. Eles nos tiraram dali rapidinho para ver os repteis.
No final do dia fomos seraradas em casas diferentes. A mulher parece bem rica e fica abrindo e fechando as portas o tempo todo. Ela me ensinou – Oiasuminasai: boa noite; Ohaio gosaimasu: bom dia; Neku: gato; a palavra para cachorro eu sempre esqueço. Ela me mostrou as porcelanas, a televisão, música, falamos sobre línguas, mostramos fotos. Ela é bem simpática. Na hora de nos separar nas casas tive a impressão que ela queria ficar com a Ihoko e o senhor Furukawa queria ficar comigo. Lástima! Tudo aqui é muito além da minha capacidade de estilo. Tem controle remoto para tudo aqui.

O segundo terremoto.

Estávamos na sala de estar ela conversando com o marido e comigo. De repente, ela suspirou e se retesou no sofá e olhou para um vaso de cristal de um metro e meio em uma mesa redonda no canto da sala, cheio de rosas.
O vaso balançava, tremia todo. As rosas chacoalharam. Uma sensação indescritível. O tremor vem do solo, sobe pelas solas dos pés e vibra pelo corpo todo. Impossível controlar. Não existe posição para ficar nem como evitá-lo. É simplesmente ficar ali e deliciar-se com as sensações. Pelo menos foi o que eu senti e disse, maravilhada – que legal!
Ela olhou para mim apavorada – com o terremoto e com minha felicidade. Neste exato segundo eu percebi a minha estupidez. Estava tão maravilhada em experimentar um terremoto que não me atinei para as conseqüências desastrosas que isso pode ter. Paciência. Uma amiga minha me disse uma vez que o que mais ela admirava em mim era minha autenticidade. Cômico. Constrangedor. Eu com um sorriso no rosto e a mulher preocupada com o vaso de cristal de trocentos dólares! Não se pode expressar o que quiser assim, desse jeito. Pelo menos não no Japão – achar que um terremoto é “legal”.

Quatorze de outubro
Odawara - Hoje fomos até Sounzain Mountain. Subimos de trem, pegamos o teleférico, almoçamos (eu não consegui comer direito), ganhamos uma lembrancinha (hiotãn – porongo). Coloquei na minha máquina fotográfica Agfa. Que, diga-se de passagem, chamou uma atenção enorme aqui. Eles são fanáticos por fotografia. E minha máquina é antiga. Meu pai trouxe da Holanda em 1960. Imagine! A capa dela parece um capacete de nazista.

Experimentamos os ovos cozidos na água de enxofre. Cada ovo comido dá 7 anos a mais de vida saudável. 
Pegamos o cable car novamente, depois o navio e chegamos a um templo xintoísta – Hakone Shrine.
Fomos abençoados e ganhamos comida e outras coisas. Sache também. Comitchiuá: tarde;
Cambauá: noite.


Quinze de outubro
De manhã fomos a Odawara Castle com um guia lindinho e uma guia velhinha muito querida que falava inglês e foi nos apresentando tudo. Vestimos-nos de princesas, tiramos fotos e fomos ver o museu. É impressionante a quantidade de coisas que eles guardam. Especialmente armas. Tem uma espécie de flecha-lança que eram usadas para caçar os fugitivos. Vi algumas gravuras das torturas e as máscaras e os uniformes dos samurais.
A velha me disse que cada família tinha uma roupa diferente e entre elas, dependendo da hierarquia de importância, certos tipos diferentes de capacete. O almoço foi chinês e gostoso. Fechamos com a sopa de tubarão. Vimos uma noiva vestida de kimono e o rapaz me disse que são as mulheres que escolhem o tipo de casamento que querem ter. Pelo menos isso!
Daqui eu escuto um trem que passa. A minha mama me deu um símbolo de casamento e postais. Também me deu bolsinhas para as minhas mães no Brasil. Ela adorou a foto do Hugo. Ficou olhando para ela um tempão. Na saída ela se agarrou em mim e disse que iria sentir a minha falta. Ela é riquíssima. Me senti dentro da própria revista Casa Claudia. Aoki-san estava aqui para nos cuidar novamente. Ele é o responsável pelo GSE e também parece ser o sargento das Armas. O tempo todo ele faz questão de nos dar as horas. Hoje a minha mala foi a última a chegar no quarto e eu cheguei três minutos atrasada na festa. Estavam todos me esperando e achei que ia para o tronco. O jantar estava divino. Comemos massa e nos atracamos nas frutas – raridades caras por aqui. Cantamos para o povo e o presidente de alguma coisa cantou uma canção de despedida para nós, de amor. Tinha a voz de um tenor maravilhoso. Ihoko disse que ontem à noite ele e o Dantcho estavam no Karaoquê na casa do Sr. Furukawa. Beberam saquê até cair! Nada como uma boa diversão! Rir é o melhor antídoto natural para qualquer veneno na vida!

Para quem chegou até aqui, ainda vem a segunda e ultima parte.
Muita coisa ainda para contar. Ah, e as fotos foram alteradas para ficarem "ruins" mesmo.
Arigatô!


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