E lá vamos nós, outra vez, a segunda parte da viagem...
Dezesseis
de outubro
Sagamihara. Trocamos novamente de cidade e o mais
engraçado é a quantidade de bagagem que carregamos. Eles enlouquecem. Também, quem manda nos dar presentes
o tempo todo? A impressão que dá é que nunca lidaram com isso e acham muito
estranho.
Hoje de manhã nos apresentaram a mais um bando de
japoneses que eu nunca lembro o nome. E sempre com o ritual da troca de
cartões... já tenho um saco cheio deles!
Finalmente, depois de uma volta no parque para ver o
ginásio e sei lá mais o que, almoçamos – comida japonesa.
Sênior High School com estruturas físicas mil, cheio
de loucuras tecnológicas. A mensalidade é de mais ou menos 200 reais por mês. A
limpeza é feita pelos alunos e não se pode mudar a mobilia de lugar. Muito aconchegante!
Tudo é muito silencioso e alguns dormem na aula.
Também pudera! A energia é toda canalizada para a bunda. (que coisa feia para se
dizer!)
Fiquei impressionada com o nível técnico das alunas de
artes.Desenham com carvão qualquer coisa. Algumas trabalham por mais de dez
horas, apagando com pão aquilo que não querem. Isso mesmo – pão!
O curso de música também impressiona pelo nível
técnico das pianistas. Teve uma que deu um show. Todos os professores têm que
ter nível superior e trabalham bastante.
Quando não estão dando aula estão supervisionando ou fazendo parte de algum clube na escola. Ocupados o tempo todo. Só existe direção e vice-direção. Não vi nenhuma mulher dando aula, só homens. O professor me disse que uma vaga para lecionar é bastante concorrida e eles têm que mandar currículo e serem entrevistados (se tiver a vaga). Tivemos que tirar os sapatos para entrar na escola. O que impressiona também é a disciplina. Todos seguem o que o professor diz. Perguntei sobre namoro e matar aula. Ele disse que não acontece. Mas se acontecer? Fiquei sem resposta. Simplesmente sorriu e me olhou como se eu fosse de outro planeta. E sou: Planeta Brasil. Onde matar aula faz parte do currículo e namoro é conteúdo disciplinar...
Quando não estão dando aula estão supervisionando ou fazendo parte de algum clube na escola. Ocupados o tempo todo. Só existe direção e vice-direção. Não vi nenhuma mulher dando aula, só homens. O professor me disse que uma vaga para lecionar é bastante concorrida e eles têm que mandar currículo e serem entrevistados (se tiver a vaga). Tivemos que tirar os sapatos para entrar na escola. O que impressiona também é a disciplina. Todos seguem o que o professor diz. Perguntei sobre namoro e matar aula. Ele disse que não acontece. Mas se acontecer? Fiquei sem resposta. Simplesmente sorriu e me olhou como se eu fosse de outro planeta. E sou: Planeta Brasil. Onde matar aula faz parte do currículo e namoro é conteúdo disciplinar...
Iamaguchi disse que raramente as portas de uma escola
são abertas para estrangeiros.
Fizemos algumas anotações em uma folhinha para
recordação e eles colocaram em um álbum. Quanta honra!
A biblioteca estava cheia de alunos e eles conversaram
despreocupados. Estavam estudando para os provões. Aqui eles têm que tirar um
sete como média para passar. A reprovação é inexistente. Provavelmente eles se
matam se isso acontecer (o que geralmente acontece, como causa principal do suicídio
entre os adolescentes japoneses), pois não passar de ano significa vergonha
para a família.
Depois da escola fomos ao Aerospace and Science
Research Institute. Eles fabricam satélites para verificar níveis de raios-X
infravermelho, sol, lua, cometas, etc. Passamos pelos enormes hangares de
testagem e fabricação. Visitamos a sala de controle de um dos satélites. Um
deles estava a 292 dias no espaço. É bem interessante.
Após descer com todas as malas novamente nossos “pais”
vieram nos pegar. Minha família é muito simpática. Tem o avô Kobayashi, que por
sinal é Akira – a velha enxutíssima casada com ele a quem a menina se referiu
como step grandmother, o casal e 4 filhos. Conheci o guri e uma das meninas que
vai estudar para o teste amanhã.
O banheiro é uma caixa de surpresa. Imagine um local
que deveria ser íntimo com portas de correr para todo lado. A impressão que dá
é que uma delas vai abrir a qualquer momento. Tomei o banho mais rápido da
minha vida, de olho nas portas, esperando que abrissem a qualquer instante. A
casa é linda, no meio do mato, no meio da cidade. Achei que ia ficar em cima da
garagem... vã esperança! Estou numa espécie de sala sagrada da casa. Tem altar,
dizeres e quadros nas paredes e uma flor d’água incrível! Parece de mentira! Arranjo
feito especialmente pra mim - Ikebana. Ela me disse que ela mesma fez.
A família é linda! Senti-me à vontade, conversamos,
mostrei as fotos. Parecia que estava em casa com meus irmãos e meus pais. Eles
são super simpáticos. O jantar estava divino. Depois tomamos café com bolo de
queijo. Que delícia! Todos são ótimos. Os velhos não apareceram. Estou adorando
tudo.
Dezessete
de outubro
Mais um dia se vai... ou vem?! Hoje foi difícil me
manter acordada. Fomos ao Soyu-ji temple budista. E a Yamaguchi tentou – com
seu inglês terrível, traduzir as coisas. O pior é que de vez em quando eles
fazem questão de repetir coisas erradas achando que é certo. A língua japonesa
tem palavras variadas do português e do inglês. Por exemplo, antigamente não
existiam banheiros então ninguém inventou uma palavra para isso. Aí eu caí na
besteira de perguntar como se dizia banheiro em japonês, para uma eventual
emergência, e me disseram: TOIRÉ! Aí eu fiquei pensando e descobri que toiré é
a versão ajaponeizada para TOILET, do inglês, banheiro. Ah! Que fantástico!
Fomos à prefeitura, ganhamos mais presentes e depois
fomos ao “shopping”. Eles são meio loucos às vezes. Ficam discutindo horário em
vez de resolver logo. Aí eu e a Carla saímos rápido se não não daria tempo para
mais nada.
Me estressei pensando nos meus problemas com os meus alunos,
na minha terrinha. Como eles pensam que sabem! E debocham e acham graça e
sempre menosprezam tudo. As vezes penso em desistir desta profissão e fazer
algo diferente, mas tenho que ter paciência.
Dezoito
de outubro
Ebina Keyaki - Fomos ao shopping hiper caro e jantamos com um padre católico que fala francês, russo, japonês, português e inglês. Fomos super bem recebidas e passeamos de ônubus até Yokohama, a capital de Kanagawa. Fomos na torre mais alta do oriente com um elevador super rápido. Quando pensei em entrar já tinha que sair.
Conheci o Huck. Legal, cheio de mesuras....kkkk, se acha lindo e inteligente... putz! E ainda fala mal dos próprios japoneses... que feio! Só porque viajou e sabe um pouquinho mais. O grande lance da viagem é descobrir que o melhor lugar do mundo é a sua casa. Ele ainda não aprendeu isso!
Os japoneses são louquinhos... quem não é?
Dezenove de outubro
Coca-cola – fiquei furiosa com a Yamaguchi dizendo que
as fábricas do Japão têm o melhor controle de qualidade do mundo. Será?
Fábrida da Hitachi. Olhamos a linha de montagem e
almoçamos a caixinha preta. To ficando enjoada disso. Mas, pelo menos não vamos
passar fome.
Fiquei impressionada com o retro projetor um pouco
maior que um toca-disco de carro. Eles abusam da technologia aqui. Sem contar com o celular que é um relógio acionado
pela voz. Muito lindinho. Perguntei se tinha rosa...kkkk
Hospital de tratamento de pessoas com deficiência
física e mental e acidentes ou cirurgias.
Vimos as instalações para cinesioterapia,
eletroterapia, hidroterapia, o ginásio, o campo de atletismo para jogos
paraolímpicos, a sala de confecções de aparelhos. O hospital é mantido pelo
governo, atende internos e externos, os médicos e fisioterapeutas são mandados
pela universidade de Kanagawa.
O karaokê foi fantástico. Abertura solene. Campai!
(expressão usada para brindar! Saúde!) Ah, lembrando sempre que não podemos
dizer tim-tim NUNCA! Afinal, essa palavrinha em japones significa as partes
íntimas da mulher... kkkkk. E nós nem podemos brindar a isso! Quanto
preconceito! Cantamos – 1 musica em japonês, 1 em japonês, tears in heaven (eu
cantei), mais uma em japonês, Beatles (eu cantei novamente com a ajuda das
meninas) e aí ACABOU! Eles nos disseram que tínhamos 12 minutos para escolher
uma musica e cantar. Foi um stress. Não cantamos. Solenidade de encerramento
com discurso do padre, do presidente, tss, tss... Palmas pra encerrar. 123, 123, 123, 12...
Fomos embora as 9h30 – EM PONTO!
McDonald’s
Cheeseburger com batata frita. O paraíso! As 10h nos
expulsaram do lugar. Eles tocam a música “Adeus amor eu vou partir...” depois
tocam um relógio e um monte de aviso pAra nós darmos o fora. Como não estava
funcionando direito, e continuávamos a comer, eles simplesmente apagaram as
luzes, e ficaram todos encostados no balcão nos olhando. Que cena cômica!
Voltamos a pé para o hotel. Essa foi a nossa grande noite livre.
Vinte
de outubro
Ebina – ultima noite em Ebina. Hoje encontramos com a
Myumi. Uma brasileira de Belém do Pará que mora aqui há dez anos. Veio com 23,
já casou, montou um restaurante e agora está tentando ter um filho.
Os japas são extremamente extressados com horário.
Hoje a reunião era às 10h e eles nos chamaram às 7h.
Incrível, é uma paranóia.
Só passeamos. Fomos a uma usina com museu e tudo.
Miyagase Dam.
Filmamos como se faz a massa soba que é disperdiçadamente
servida fria com aquele molho soyo horrível.
Depois visitamos uma escola onde o padre queria
ensinar português – que piada! Bom dia!
Pobre bicho! É bem prestativo, mas parece que come
coisa podre. Sai um cheiro horrível da boca dele. O português dele é terrível e
ele faz que não entende o que falamos.
Visitamos uma fábrica de cerveja bem legalzinha.
Afsugi Beer Corporation – falado em japonês – Birú!
Depois fomos ao churrasco. A entrada – peixe cru.
Virou uma bagunça. Colocamos o sushi na grelha e
assamos tudo. Eu peguei minha sardinha, usei os pauzinhos para abri-la, tirei
todo o “conteúdo” e coloquei na grelha. Eles me olharam e perguntaram por que
eu tinha feito aquilo. Simples! Vou ensinar para vocês, como se faz no Brasil!
E não é que eles gostaram???
No meio da janta apareceu um especialista em Kataná.
Deu uma aula. E o povo mal educado sequer ouviu o que ele disse.
Ele mostrou uma lâmina do século dez, curva, que veio
da China. Cada uma tem uma função diferente. As curvas eram para golpes
laterais quando se atacava à cavalo. As mais retas para combate frontal.
Dependendo da família ou da origem as lâminas eram mais ou menos retas.
A lâmina que ele mostrou vale 5 milhões de dólares.
Todas as Katanás pertencem a família dele. O orgulho era óbvio ao mostrar esses
artefatos tão raros. Ele suava muito no palco. Dava aula pra mim. Eu
aparentemente era a única que estava prestando atenção na sua narrativa.
Ele me convidou a subir ao palco e eu fui, toda
desconfiada. Me deu a honra de pegar uma Kataná, a maior, de lâmina reta. Eu
disse não e ele insistiu, fez questão.
Respirei fundo e peguei a espada. Leve, muito leve. Me
preparei para algo mais pesado e fiquei muito surpresa com tamanha levesa num
objeto tão mortal.
Ele me ensinou uma postura de ataque e o que fazer.
Peguei o punho com as duas mãos e fiquei na posição. Eles se afastaram... por
que será??? Foi uma sensação muito boa. Assistir filmes sobre isso é uma coisa.
Ter nas mãos a arma branca mais mortal do mundo, outra!
Vinte e
um de outubro
Chegamos a Yokosuka no hotel da conferência – Yokosuka
Prince Hotel
O padre enlouqueceu. Dava saltitos dizendo estar em
território americano que ali só se falava em inglês. Que coisa mais troncha.
Encontramos
vários conhecidos ao longo desses 20 dias que nos cumprimentaram com alegria. Ioki-san
estava presente e também conhecemos Richard King o próximo Governador do Rotary
2001/2001.
Saímos depois e fomos visitar Miura Peninsula onde tinha dois cata-ventos
para gerar energia eólica. Tiramos fotos e ficamos impressionadas com nosso
tradutor que disse que a mulher dele estava para ganhar neném, hoje! Vai para
casa, criatura!
Depois fomos a um restaurante japonês muito lindo e
ganhamos uma caneca.
Finalmente, encontrei a caneca. Minha cara de
espanto-felicidade (depois de muito procurar) foi óbvia.
Visitamos algumas
lojas e fomos ver o Destroyer MIKASA e seu orgulhoso almirante reformado de 70
anos. Tivemos tapete vermelho na entrada com honrarias e tudo.
Vinte e
dois de outubro
Hoje foi o grande dia da Conferência do Distrito 2780
de Kanagawa.
Estamos em Yokosuka Prince Hotel com 20 andares. Este
hotel tem estrutura para agüentar um terremoto de 9.8 na escala Richter. Visitamos
as fundações do edificio e fiquei impressionada com as imensas rodas de
borracha que protegem as pilastras como se fossem um elástico para dar “flexibilidade”
à estrutura e não deixa-la desabar.
Sexta feira nós sentimos um terremoto, o terceiro.
Tinha rotariano que não acabava mais.
Encontramos vários conhecidos por todo lugar. O teatro
onde foi realizada a conferência foi construído pelos americanos depois da
segunda guerra mundial. Eles destruíram nada mais justo que construir!
O padre saltitante estava presente para ouvir e ver a
banda Naval americana tocar. Foi quarenta minutos de apresentação comparado aos
cinco minutos que nós entramos e saímos do palco e o Kipper fez um discurso
terrível. Ele atropelou as palavras e o pessoal ainda cumprimentou dizendo que
foi ótimo.
O LENÇO
Nós quatro, toda bobas, colocamos os lenços nas
costas, sobre os ombros, e aparecemos na conferência, pensando que estávamos abafando, e, acima de tudo, homenageando os japoneses com o presente que ganhamos. TODOS nos olharam e nos
acharam “lindas”. Vieram nos perguntar se no Brasil se usava este tipo de coisa
“deste jeito”. Depois descobrimos que o lenço é usado para embrulhar comida.
Que legal. Nós fomos as legítimas farofeiras. Também, como iríamos saber que um
pano lindo daqueles, coloridos, cheio de estampas e enorme, era simplesmente
uma toalha de prato comum para embrulhar marmita? Rimos muito. Foi um mico
geral. Gafe coletiva. Ainda bem!
Vinte e
três de outubro
Continuamos em Yokosuka.
Hoje de manhã choveu. Mari não está muito legal. Tem
dor de cabeça por causa da sinusite, está fungante e roncante. Tem alguma coisa
no ar que está dando alergia nela. Vai ver é o ar do mar.
Estamos na reta final e começamos a sentir saudades,
estamos sofrendo de uma espécie de síndrome de saudades down. Tem hora que bate
uma tristeza...
Pela manhã fomos a coorporação de combustível nuclear
do Japão. Ela produz combustível que abastece 51 usinas nucleares no Japão. Por
que será que o Americano não vem aqui dizer que isto é contra a natureza???
Palhaçada!
O urano chega em forma de rocha, é moído e condensado
em pequenas plastilhas cilíndricas ROD, que vão ser colocadas em cilindros de
um metro que, juntos, formarão uma espécie de conjunto para alimentar o reator.
São fabricados 10 conjuntos por dia com 200 pallets. Incrível.
O passeio pela fábrica foi rápido e mediram nossa
radiação no final. Tudo ok. Ganhamos hashis.
Depois fomos ao centro de desenvolvimento e pesquisa
NTT de Yokosuka.
É impressionante a qualidade de imagem e som em 3D que
nos mostraram. Vimos a technologia nas telas com resolução de 6000 melhor que
televisão. Imagem digital.
Depois vimos uma televisão que trabalha como um livro
quando toca na tela. Uma televisão com imagem tridimensional.
Fomos também ao Instituto de Pesquisa DOCOMO NTT de
Iokosuka. O sistema de amortecedores do prédio é feito com borrachas. Uma
espécie de sanduíche com aço. Extremamente flexível para agüentar terremotos
Estão construindo um prédio novo. Este sistema absorve
um terremoto reduzindo seu impacto em um quarto.
Visitamos as salas de som com absorção de radio, etc,
Vimos um filme com som poderoso numa sala especial.
Jantamos no navio restaurante japonês e cantamos
karaokê. Mari recebeu declaração pelos Beatles e ganhou carona de guarda-chuva.
Só ela ganhou carona. Tava dodói.
A Ihoko (coitadinha) tava indo bem bela de carona no
guarda-chuva quando de repente Fukuribo puxou o guarda chuva deixando-a na
chuva para vir correndo na minha direção... sinistro!
Vinte e
quatro de outubro
Última noite em Yokosuka.
Hoje fomos a ultima
prefeitura fazer visita ao prefeito. Ganhamos um chaveiro lindo.
Depois ganhamos flâmulas e mais um livro escrito em
kanji com assinaturas e mensagens das pessoas que conhecemos na reunião do
Rotary de Yokosuka North.
Fizemos uma visita a companhia Nissan de Motores. Na
fábrica de Oppama eles fabricam carros. Visitamos a linha de montagem. Não nos
deixaram tirar fotos. Nos levaram para fazer um test drive na pista especial. Aproveitamos para gritar bastante... até parece que o piloto estava correndo muito. Fingimos que ele estava e ele ficou todo felizinho... como é fácil agradar os homens!
Aqui eles fumam muito e o tempo todo. Parecem chaminés, não é a toa que estão sempre estressados correndo atrás do relógio.
Mari está cansada. Sempre com sono.
Só kipper parece bem. Continua no mesmo esquema.
Não vejo a hora de chegar em casa
Vinte e
cinco de outubro
Kamakura – quarta-feira. Fizemos nossos relatórios
para entregar para Hinoku. Fomos agradecidos e educados mas escrevemos o que
achamos. Cigarro, tempo (nervoso), e mais algumas coisas.
Fomos recebidos pelo grupo e mais light do distrito.
Passeamos e visitamos um museu onde se preserva uma arte extremamente antiga de
entalhe em madeira com mais de vinte etapas de acabamento na peça para se obter
o laqueado vermelho denso. Lindíssimo.
Tem peças de 700 anos como uma mesa e potes de guardar
peças de xadrez de cento e vinte anos.
O artesão, um senhor de 70 anos mais ou menos,
curvado, magro, flexível, concentradíssimo no que estava fazendo, com os dedos
enegrecidos e avermelhados pelo produto, pó e atividade de tanto tempo. Parecia
feliz com nossa visita. Foi super simpático. Uma figura inesquecível. Gostei
dele imediatamente.
O idiota do Takanaka me disse umas bobagens sobre não
poder ir a Tokyo dar uma olhada nos computadores. Isso porque Kipper, Carla e
Mari pegaram o trem e foram compar os PCs. Rotarianos são muito ocupados, ele
disse. É impossível porque o programa não pode ser mudado. É impossível, eu
sei, to te dizendo para esquecer, por favor.
Foi estranho – eu encarei o japona e ele me encarou.
Não gostou nem um pouco do contato visual direto, desafiador e questionador, de
minha parte, claro. O cara ficou nervoso, fumava um cigarro atrás do outro.
Veio com um papo estranho pro meu lado dizendo que tinha uma programação pra me
levar numa escola. Eu disse, tudo bem, estou aqui, vamos lá. Yhoko também está
no hotel. Afinal, segundo o coordenador da área, eles combinaram contigo, e
foram a Tokyo. Se você está se sentindo preterido, problema seu.
Ele não gostou nadinha deu ter discutido isso com ele.
Por ser mulher e por simplesmente debater. Disse a ele que nós brasileiros não
conhecemos duas palavras – IMPOSSÍVEL e PROIBIDO. Isso não existe no nosso
dicionário.
Ele me olhou, crédulo, e acendeu mais um cigarro. Me
retirei. Estava cansada e poderia partir para a violência, sem sequer saber que tipo de especialista em luta marcial ele era! Mesmo porque, depois de segurar uma Katana com minhas mãos, eu estava pronta para tudo!
Depois na janta, todos estávamos juntos, e ele quis me
levar para visitar a escola de inglês dele. O jantar demorou tanto que não deu
tempo. Tanta frescura para comer carne crua. Aliás, me perdoem. O bicho cru ali
no prato merece respeito.
Fizemos nossos relatórios e conversamos até tarde –
detalhe, a íngua nos pediu para fazer um discurso em japonês! Há há !
Na hora da festa da despedida ficou com a cara no
chão. Nem sequer se despediu de mim. Bem que eu podia ter falado umas bobagens
maiores pra ele.
Vinte e
seis de outubro
Quinta-feira. Último dia de atividades. De manhã fomos
visitar uns templos de três portas. Os portais eram em homenagem ao homem que
cuidava do templo.
Fomos ver o grande Buda com mais de mil anos de idade.
Tiramos fotos e voltamos para almoçar num restaurante
italiano. Que piada!
Prato de entrada – salada de peixe cru. Prato
principal – pato assado com umas frescurinhas.
Ainda bem que o pão é sempre delicioso!
Depois eu fui visitar uma elementary school com o Dantcho
e as meninas voltaram a pé para o hotel. A escola é uma loucura. Tem trezentos e onze alunos
incluindo uma ala para alunos especiais. Cadeira de rodas, devicientes mentais,
auditivos e mudos.
Tem de tudo lá dentro e o espaço convida a estudar.
Voltamos a nos preparamos para o Farewell party.
Ninguém das minhas host family estavam lá. Vai ver não gostaram muito de mim.
Fizemos nossos discursos e a idiota aqui chorou.
Ganhamos mais presentes, inclusive uma máquina
fotográfica (acredito que eles pensaram, observando minha Agfa... coitadinhas, nem tem uma máquina decente!).
A noite foi ótima. Cada uma de nós numa mesa. Carla
comeu ovo podre preparado numa caixa de madeira e dormido por 20 dias. Acho que tentaram tirar o pinto mas não deu certo.
Vinte e
sete de outubro
Ultimo almoço no hotel
Achamos que a entrada tinha uma carninha mas veio
crua. Parece praga! Nem água quente!
O almoço – pasta a carbonara – foi uma piada.
Carbonara com camarão, com cabeça e tudo. Um camarão minúsculo com umas barbas
de quase dez centímetros e olhinhos pretos.
É impressionante como deturpam tudo por aqui.
O almoço italiano de ontem não teve nada de italiano.
Massa? Não vimos nem na fotografia.
Dia da partida!!!
Soki-san e Okada-san vieram conosco até Narita de
ônibus. A mala do dantcho pesou 45kg e a da Ihoko abriu.
Fizemos umas comprinhas para nos livrarmos do iens e
passamos pela imigração.
Antes de sair do hotel fui passear na praia. O pacifico é diferente. Cor diferente, gosto diferente! A areia da praia é escura, devido ao solo vulcanico. Bom lugar para pensar. O clima estava bom, com cara de chuva. Toda praia é boa. Vai ver viemos do sal, da água, da essência do mar.
Fiquei observando um bando de crianças de uma escola primária ajudar os pescadores a puxar a rede com peixes. Criança é igual em qualquer lugar. São únicas, autenticas, felizes.
Infelizmente em algum momento na nossa vida nos preocupamos tanto com o "ter" que esquecemos o "ser".
Aí culpamos nossa infelicidade no outro, no trabalho, no tempo.
"Felicidade existe, mora em qualquer lugar, basta apenas o amor encontrar"