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Trabalhamos embarcadas, offshore, dentro d’água, como queiram. As palavras para explicar essa maneira de ganhar a vida, ou ganhar o sagrado dinheiro para viver a vida, tem muitos nomes. Mas, o importante é o que se ganha na convivência. Neste mundo muito diferente, temos o privilégio da intimidade quando descobrimos a beleza no interior dos seres mais incríveis. Verdadeiros presentes em palavras pois é o que podemos aqui compartilhar. Pérolas que não vão adornar o corpo mas com certeza vão fazer crescer o valor da alma de cada uma de nós. Se nem tudo que se mostra é belo, não importa. Se percebermos o equilíbrio, vai ficar tudo bem!

18 dezembro, 2017

Eu Tinha um Amigo


Eu tinha um amigo (conjugado no verbo possessivo). Fiel. Até que mudou. Não sei por quê, ou talvez eu saiba e não queira dizer ou aceitar. Eu mudei, ele mudou. O mundo mudou também e nos arrastou naquele caleidoscópio tão comum das paixões. É... foi uma paixão. Não minha, dele. Mas também – penso eu aqui no meu cantinho – que nem foi paixão. Foi uma necessidade, um medo, de não ficar sozinho. Ah, como as pessoas se perdem com o medo da solidão. Que banal!
Se soubessem que existe dentro de nós tantas razões, tantos mundos, tanto conteúdo que não nos deixa sozinhos nem um segundo! Ha, ha! Até rimou!
Então, eu tinha um amigo. Ele era para a cama, a mesa e o banho (rindo com as lembranças, principalmente as sórdidas!). Ele era técnico, carinhoso, bem humorado, resiliente, quase nada educado (ninguém se importava), cozinhava muito bem, sabia de tudo (tanto que sua língua não cabia na boca), vaidoso sem exageiros, forte sem músculos definidos (só o pânceps) e generoso! E era, acima de tudo, meu amigo – eu bem pensava assim!
Pensava porque quando se fala em amigos a idéia é que são eternos. Mas não são. Existem vários tipos de amigos. Para o futebol, o vinho, o cinema. Aquele que te escuta e aquele que fala. O chato, o insistente, o pessimista. O analista e o conquistador. (Desculpe-me por escrever no masculino mas é para encurtar o texto – considerem ambos os gêneros!). E também os que embarcam. Noventa e nove por cento só dura 15 dias, ou 7, dependendo da sua escala!
Voltando ao amigo que eu tinha: em épocas de crises – financeiras e psicológicas – ele apoiava e se dava. E nós tínhamos essa simbiose, inédita em tantos relacionamentos. E, infelizmente, tenho que concordar com o ditado popular que diz que tudo que é bom dura pouco. Mas durou muito. Durou a nossa eternidade. E, pensando nisso agora, ainda sinto uma espécie de alegria amorosa em relação ao meu ex-amigo. E nunca, em nenhum momento, contava com sua morte.
Mas não sinto saudade. Existe um vazio preenchido com tristeza onde ele ocupava. Uma pitada de decepção e raiva onde os mundos explodem e cada parte vai para um lugar distante, inalcansável. Uma inexplicação (se é que isso existe) e incompreensão porque somos fracos e deixamos que sentimentos idiotas sobrepujem a nossa essência divina. E já não somos mais humanos e apenas espectros das nossas mais rasas emoções. E nos perdemos. E perdemos um ao outro. E sobram apenas lembranças.
E aqui é onde lembro uma música do George Michael, Waiting For That Day, onde ele diz – “Minha memória me serve muito bem”. E onde a solidão não tem espaço se você está preenchido com milhões de momentos perfeitos.  https://www.youtube.com/watch?v=R74shUIiSIY
Enfim, eu tinha um amigo. E escrevo isso agora porque sua morte na minha vida me fez entender que nada é para sempre... nem as pessoas! E se só levamos desta vida o amor que a gente dá, então, estou com uma bagagem pesada!
Por ele, por todos eles, por ela, por todas elas. Por todas as pessoas que ainda vivem em algum lugar longe de mim; por aquelas que estão presente. Pelas pessoas que morreram, transcenderam, mudaram, ausentaram, trocaram de casas e cascas.
Eu tinha amigos. Alguns ainda permanecem!

E que assim seja!

15 outubro, 2017

Precisa-se de...


Todos precisam de amantes. Desses que amam mesmo, sem limites, sem essas mazelas sociais-religiosas hipócritas. Precisamos dessas pessoas de vez em quando – vez em sempre – para nos dar aquilo que geralmente nossos companheiros “oficiais” não conseguem.
Nunca encontramos o ouvido necessário, o carinho desmedido, a compreensão sem julgamento naqueles que dividem a rotina, pode ser que no início sim, mas o tempo passa e tudo se perde.  Aqui, nessa vida no mar, sempre falta algo, sempre há um vazio no todo, como se não houvesse um entendimento com interesse real. E aqueles que ficam em casa não conseguem entender o que se passa no nosso coração.
Esta vivência fragmentada abre portas para outros e outras. O cárcere que nos obriga a desancorar da vida aterrada nos leva a ignorar limites. Nos apaixonamos. Nos deslumbramos porque eu vejo noutra pessoa, o que gostaria de ter. E me atiro!
E aquele esteriótipo de traidor-sem-vergonha ou aquela figura da mulher piranha-destruidora-de-lares não faz nenhum sentido. Aqui na água, na terra ou no ar, existem pessoas pessoas que sabem se dar sem cobrar. Que são livres, que já ultrapassaram os limites convencionais e sabem aproveitar os minutos da vida e serem felizes – no fogo – , sem amarras, sem cobranças, sem pudores desnecessários.
Mas é difícil, muito difícil. Porque somos sempre julgados, discriminados e condenados por não conseguirmos viver essa vida proclamada normal. A sociedade dita regras e, para não sermos marginalizados, precisamos segui-las.
Mas lá no fundo somos livres. Isso é que incomoda. Não existe religião, origem, sentimento, consciência ou qualquer coisa que consiga explicar a simples liberdade de sentir, de gostar de alguém, de querer se fundir no pensamento que é tão igual ao seu, sua casa, seu porto, sua cama.
E, acreditem, todos realmente precisam de amantes. Para seu amor próprio, para seu coração bater com paixão, para melhorar todos os relacionamentos – antigos e atuais. Todos precisam de amor. Todos precisam de motivos, de emoção, de vida secreta.
Os segredos que alimentam a imaginação. Que dão aquele gás necessário ao mundo imaginário. Mas não existe nada de imaginário no toque que aquece, na poesia que cresce, nas palavras que sempre queremos ouvir. Aquele olhar cúmplice, a antecipação do momento do encontro.

Todos precisam de ouvidos. Todos precisam se entendidos. 
Todos precisam de colo, de uma mão que não nos deixe pular no precipício.
Mas quem vai confessar?

Curiosos