Eu
tinha um amigo (conjugado no verbo possessivo). Fiel. Até que mudou. Não sei
por quê, ou talvez eu saiba e não queira dizer ou aceitar. Eu mudei, ele mudou.
O mundo mudou também e nos arrastou naquele caleidoscópio tão comum das
paixões. É... foi uma paixão. Não minha, dele. Mas também – penso eu aqui no
meu cantinho – que nem foi paixão. Foi uma necessidade, um medo, de não ficar
sozinho. Ah, como as pessoas se perdem com o medo da solidão. Que banal!
Se
soubessem que existe dentro de nós tantas razões, tantos mundos, tanto conteúdo
que não nos deixa sozinhos nem um segundo! Ha, ha! Até rimou!
Então,
eu tinha um amigo. Ele era para a cama, a mesa e o banho (rindo com as
lembranças, principalmente as sórdidas!). Ele era técnico, carinhoso, bem
humorado, resiliente, quase nada educado (ninguém se importava), cozinhava
muito bem, sabia de tudo (tanto que sua língua não cabia na boca), vaidoso sem
exageiros, forte sem músculos definidos (só o pânceps) e generoso! E era, acima
de tudo, meu amigo – eu bem pensava assim!
Pensava
porque quando se fala em amigos a idéia é que são eternos. Mas não são. Existem
vários tipos de amigos. Para o futebol, o vinho, o cinema. Aquele que te escuta
e aquele que fala. O chato, o insistente, o pessimista. O analista e o
conquistador. (Desculpe-me por escrever no masculino mas é para encurtar o
texto – considerem ambos os gêneros!). E também os que embarcam. Noventa e nove
por cento só dura 15 dias, ou 7, dependendo da sua escala!
Voltando
ao amigo que eu tinha: em épocas de crises – financeiras e psicológicas – ele apoiava
e se dava. E nós tínhamos essa simbiose, inédita em tantos relacionamentos. E,
infelizmente, tenho que concordar com o ditado popular que diz que tudo que é
bom dura pouco. Mas durou muito. Durou a nossa eternidade. E, pensando nisso
agora, ainda sinto uma espécie de alegria amorosa em relação ao meu ex-amigo. E
nunca, em nenhum momento, contava com sua morte.
Mas
não sinto saudade. Existe um vazio preenchido com tristeza onde ele ocupava. Uma
pitada de decepção e raiva onde os mundos explodem e cada parte vai para um
lugar distante, inalcansável. Uma inexplicação (se é que isso existe) e
incompreensão porque somos fracos e deixamos que sentimentos idiotas sobrepujem
a nossa essência divina. E já não somos mais humanos e apenas espectros das
nossas mais rasas emoções. E nos perdemos. E perdemos um ao outro. E sobram
apenas lembranças.
E aqui
é onde lembro uma música do George Michael, Waiting
For That Day, onde ele diz – “Minha memória me serve muito bem”. E onde a
solidão não tem espaço se você está preenchido com milhões de momentos
perfeitos. https://www.youtube.com/watch?v=R74shUIiSIY
Enfim,
eu tinha um amigo. E escrevo isso agora porque sua morte na minha vida me fez
entender que nada é para sempre... nem as pessoas! E se só levamos desta vida o
amor que a gente dá, então, estou com uma bagagem pesada!
Por
ele, por todos eles, por ela, por todas elas. Por todas as pessoas que ainda
vivem em algum lugar longe de mim; por aquelas que estão presente. Pelas pessoas
que morreram, transcenderam, mudaram, ausentaram, trocaram de casas e cascas.
Eu
tinha amigos. Alguns ainda permanecem!
E
que assim seja!