Quando escuto alguém dizer "Temos que acabar com o preconceito" penso que isso é impossível. E se, lá no fundo, fizermos uma análise de consciência, veremos que todos nós carregamos pré-conceitos sobre alguma coisa - religião, cor, raça, cultura, vestimenta, gênero, sexo, comida, etc.
Afinal, o preconceito é incutido no ser humano a partir do nascimento, através de valores, opiniões e sentimentos trazidos pelos pais, pela escola, pela sociedade que circunda esse indivíduo.
Acabar com o preconceito? Impossível!
A não ser que tenhamos uma sociedade feita de robozinhos idênticos que falem a mesma língua e façam a mesma coisa. Mesmo assim, a opinião do criador sobre eles será diferente e, em algum momento, haverá diferença e aí voltaremos ao ponto zero pré concebido!
O preconceito vai criando raízes na pessoa porque ela não faz um exame crítico a respeito do ocorrido para saber se aquilo é verdadeiro ou se existe uma outra possibilidade de ser diferente. Como dizia meu avô: "Emprenha-se pelo ouvido". A pessoa assume um sentimento hostil, muitas vezes em consequência da generalização apressada imposta pelo meio, vindo de pessoas que tiveram uma experiência pessoal negativa. E assim espalham-se conceitos que vão gerar discriminação e prejudicar a vida da maioria das pessoas - e cria-se uma corrente do mal.
E chegamos à discriminação que é o julgamento estabelecido pelo preconceito na ação de separar, condenar, marginalizar qualquer coisa ou pessoa sem direito a defesa.
Por exemplo: preciso de um motorista. Tenho apenas uma vaga. Aparecem cinco candidatos e um deles é uma mulher. Após verificar os documentos e currículos de todos a mulher é, de longe, a candidata mais qualificada. Não tem multas nem pontos descontados na carteira. Nunca esteve envolvida em um acidente. Dirige com atenção, prudência e educação. Mas, ao analisar a contratação penso: Ah! Mas é uma mulher! E vem na mente aqueles chavão: "Mulher no volante, perigo constante." E o que eu faço? Contrato um dos homens!
Esse é apenas um exemplo, mas que mostra que existe uma linha muito tênue entre o conceito que regula minha vida (mulher motorista) e a ação que fará uma diferença gigantesca (não vou contratar uma mulher que dirige!)
Aqui, embarcada, vejo movimentos preconceituosos o tempo todo. Como precisamos de hierarquia para comandos e comandados, a discriminação é presente em simples atos diários. Complexo para explicar, mas só para deixar registrado que, em um navio com tantas culturas e nacionalidades, é palpável e até nojento, perceber ações que denigrem e empobrecem brasileiros vinda de chefias estrangeiras só porque somos latinos - nesta palavra, muita coisa já pode ser explicada!
Preconceito é intolerância! É o pensamento que leva à ação discriminativa. E é essa ação que devemos combater. Enquanto existir um mundo cheio de cores, sabores, amores, existirão escolhas, preferências, um jeito de fazer diferente. Isso faz parte do ser humano. Isto é quem somos - seres em constante evolução! Mas para evoluir é preciso senso crítico. É preciso conhecer a si mesmo. É necessário empatia e compaixão.
Então, cuidado com movimentos que, em nome de uma inclusão, segregam grupos. Não sejamos engrupidos com idéias e leis que facilitam a vida de alguns em nome do "combate ao preconceito" e acabam marginalizando a maioria.
Discriminar, isolar, não dar oportunidade de reaver conceitos, nos deixará estagnados e propensos à violência e jamais reconheceremos no outro a sua essência divina. E isso não permitirá que a nossa própria essência divina se manifeste!