Não pense
que vou escrever sobre o livro mais famoso do momento, desculpe decepcionar vocês.
Esse cinquenta tons é apenas uma alusão aos cinquenta anos já completos de uma
amiga-irmã, aos cinquenta anos de outra amiga-irmã que está chegando e os meus
cinquenta! Ah, sim, tecnicamente sou a mais nova das tres. Isto só me faz rir.
Quando na verdade, por tudo que vivemos, a idade cronologica não é a
espiritual, nem mesmo a psicológica. É que, dependendo do momento, somos
agraciadas com nossas cinquenta caras, nossas cinquenta escolhas, nossos
cinquenta sentimentos diluídos em cinquenta emoções. E não são cinzas. Embora o
cinza, o branco e o preto estejam presentes, a maior parte do tempo é
amarelo... Ouro! Da energia que compartilhamos, das risadas que trocamos, das
lágrimas que testemunhamos. Isso faz bem mais de cinquenta. Só nós tres juntas
formamos cento e cinquenta. E com nossa irmandade, que sentimos vem bem antes
dessa vida, é simplesmente impossível determinar um número, imagine então, uma
cor.
Antigamente
chegar aos cinquenta era uma marca da velhice. Cabelos brancos; rugas; andar
lento, curvado; cansaço; voz baixa, desgastada; um sorrisinho no canto da boca
ou as vezes um olhar duro, amargo, sem nenhum vestígio de felicidade. Esse era
o tom da velhice dos cinquenta. Hoje a juventude e a maturidade se confundem
nos vários tons de cabelo, nas várias artimanhas da dermatologia para mascarar
as rugas. É preciso ter cuidado para não cometer uma gafe ou ofender alguém
quando mencionar seu tempo. As pessoas estão preocupadas com a aparência e
deixam de lado o coração, literalmente.
Enquanto os
enfartos aumentam a indústria da maquiagem fica milionária. O grande perigo é
darmos mais valor ao supérfluo e não nos atermos aos valores humanos. Amizades,
relacionamentos, férias, livros, café com pão de queijo, uma tarde de filmes
com os sobrinhos, viagens, uma boa conversa, risadas à vontade à beira mar, tapioca,
um bom camarão ao molho de mostarda com mel. Ah, como é bom chegar aos
cinquenta. Como é bom acordar todos os dias e agradecer ao sol, ao ar que
respiramos, aos familiares que estão vivos e também aos antepassados que nos
proporcionaram chegar ao ponto que estamos.
Devemos
agradecer aos privilégios que nos são dados todos os dias. Mesmo doentes, mau
humoradas; mesmo que aquela dor lombar persista e eu precise ir ao dentista,
vou olhar tudo pelo lado bom. Tenho condições de ir ao médico e comprar meus
“remedinhos”. Tenho um corpo suficientemente perfeito para me dar liberdade de
ir e vir. Tenho dentes! Ah, dentes! Você já percebeu como os dentes são
importantes? Quer coisa mais cativante do que poder sorrir, com o bocão aberto,
mostrando todos os tons de branco numa risada poderosa e revitalizadora?
Está mais
que na hora de entender que estamos apenas na primeira fase dos cinquenta anos.
Depois de pintar nossa vida com tantos tons, a palheta de cores nem começou a
ser usada ainda. Já choramos, já sorrimos. Enfrentamos mortes e nascimentos.
Batizamos, oramos, compartilhamos o pão, o café, o arroz. Mentimos, fomos
verdadeiras. Calamos, dissimulamos. Promovemos a paz e enfiamos o garfo da
guerra em alguns corações. E continuamos pintando...
A única
certeza que tenho é que deixaremos nosso corpo neste plano em algum momento.
Quando, não sei. Não me lembro os termos do contrato que assinei. Enquanto isso
aumentarei minhas orações. Agradecerei mais. Serei mais verdadeira. Calarei se
tiver que magoar. Guardarei o garfo da vingança e a faca do rancor. Jogarei
fora minhas amarguras e vestirei cores mais alegres. Ainda vou tentar colocar
na parede do meu quarto uma enorme fotografia de nós três juntas: Penélope
Charmosa, Betty Boop e Branca de Neve.
E, acima de
tudo, viverei intensamente todos os tons da minha vida, agradecida por ter
belas amigas. Minhas irmãs: nossos cinquenta tons de vida realmente são
infinitos. Obrigada por fazerem parte da minha vida. Obrigada por me
emprestarem suas nuances, juntamente com seus pincéis, me ajudando a colorir a
minha vida. Independente da foto na parede, tenho um amor infinito por vocês no
coração. Thamar e Rosemary (em ordem cronológica!)