Separar é difícil, dolorido, vergonhoso. Além de nos sentirmos inúteis, fracassados e humilhados somos ainda rotulados e excluídos. Temos a sensação que nosso mundo se intensifica e que todos os olhares estão sobre nós. O mais engraçado é que a exclusão se dá em um mar de pessoas iguais a nós. Porque afinal, todos se separam. A vida é permeada de situações separatistas e inusitadas. Mas no final, somos nós que escolhemos, conscientes ou não, nós buscamos a separação. Se colocarmos de lado a emoção vamos perceber que na razão já estava escolhido o rompimento.
Esquisito? Vamos voltar ao início. No parto é onde começamos a treinar a escolha de cortar o vínculo com aquele corpo que nos protege e nos alimenta. Mas nós egoisticamente forçamos nossa saída. Pensando bem, nós não queremos ser protegidos nem providos sempre, caso contrário nem nasceríamos. Ficaríamos como parasitas no corpo da mamãe... para sempre!
Nós queremos mais... Queremos desafios, provocação. Somos curiosos, destemidos. E vamos vivendo a vida permeando-a com separações. Largamos as mãos do nosso pai e vamos cambaleando chão afora querendo andar sozinhos. Renegamos a família e nos juntamos ao um grupo uniformizado com a idéia que sermos diferentes porque queremos nos separar do conceito do certo. Nossos valores e vontades brotam desse vulcão interno que tem fome de evolução, tem fome de mudanças, tem sede de movimento, de desapegar!
Mas, em algum momento do caminho ficamos presos na rede do medo da solidão. E enquanto adultos começamos a satisfazer o outro – satisfação que traz infelicidade e castração.
E aquele caminho que estava sendo trilhado com escolhas independentes é bloqueado em nome de tantas coisas que caímos no poço das regras históricas: paixão, amor, familia, filhos, sociedade. Deixamos de ser destemidos e começamos a dar satisfação e não a obtemos de volta.
Separação leva a “estar sozinho” e por que isso é tão temida.
Lembre-se, quando pequenos, fomos nós mesmos que escolhemos quebrar vínculos, tabus. Sem preconceitos nos atirávamos para frente sem sequer pronunciar uma só palavra. Era nosso instinto de liberdade que nos guiava e agora está preso, em algum lugar da mente, abandonado e separado do nosso eu.
Um querido amigo me disse – Amar sem ser amado é como fumar um cigarro apagado. Por que precisamos ser amados de volta? Será que não percebemos que somos seres completos, plenos, capazes e inteligentes? Por que precisamos atrelar nossa felicidade ao outro? Simplesmente porque esquecemos que nascemos da escolha da separação. É através dela que se dá o movimento para a busca de quem somos realmente. Enquanto precisarmos de alguém para nos sentirmos inteiros, vamos nos enganar. Vamos esquecer que no início tínhamos tudo para nos bastar e nos perdemos no caminho.
Separar é mais uma chance que temos para nos encontrar, juntar todos os pedaços perdidos, refazer, entender. Nos conectar a nossa própria essência e espalhar nosso amor por todos os universos ao nosso redor. Eu mesma posso fumar sozinha... posso acender meu cigarro com meu próprio fogo.